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| As Sete Leis de Deus à humanidade |


Pergunta: Havia escrito a algumas semanas, perguntando-lhes como é que v. vêem a Cristo, e a resposta que recebi não me foi satisfatória. Vocês disseram que não estão interessados em polêmicas acerca disto, o que me leva a pensar que por falta de argumentos para provar que o Homem de Nazaré não fora realmente o Messias esperado. As palavras de Daniel no cap. 9 de que o Messias viria numa época difícil para os judeus, que ele seria morto e que o Templo e a cidade de Jerusalém seriam destruídos após sua morte, além de Isaías ser tão claro no capítulo 53, trazendo até nós um "retrato falado" de Jesus. Por favor, que têm a dizer os senhores?

Resposta:

Conforme já explanado em outras páginas, não temos interesse em discussões e polemizações vãs que só servem para causar o distanciamento entre os seres humanos e fazer proliferar a violência entre pessoas que pensam diversamente umas das outras.

No entanto, não significa isto que nós não tenhamos argumentos. Muito pelo contrário: o raciocínio lógico é que um árabe saberá melhor acerca de determinada ocorrência em sua terra e em sua história com um dos filhos de seu próprio povo, com uma compreensão plena de todos os fatores envolventes por tratarem-se de elementos peculiares a sua própria cultura, e o mesmo com respeito a qualquer outro povo em concernência a uma pessoa particular dentro do mesmo, sendo que seria aconselhável que se perguntasse: somente no caso dos judeus abre-se uma exceção? Somente para conosco no mundo ocidental acha-se que não saibamos o suficiente acerca de alguém que fizera parte de nosso povo, e vivera falando nossa língua e de acordo com os parâmetros de nossa cultura? Então, é o não judeu, o ocidental, que jamais teve contato algum com o semita e sua cultura, que tem a verdade, e que realmente a entende, atingindo uma compreensão exata e perfeita de todos os pormenores?

Quanto ao judeu, este permanece aos olhos do ocidental cristão como o destinaram - é um "tapado", desprovido de coração e "cego espiritualmente" - isto e outras afirmativas sem fulcro, seja nos escritos ou na lógica. Se, porém, o ocidental (cristão) pudesse aplicar ao judeu o que tão facilmente aplica aos demais com respeito a quem pode conhecer melhor acerca de fato histórico de qualquer nação que seja, logicamente tudo mudaria de figura.

Ninguém discute que um chinês que haja sido educado como tal conhecerá melhor a Confúcio e a Lao-Tse que qualquer outro indivíduo no mundo, mesmo melhor que qualquer outro oriental de algum país vizinho. Suas origens têm as mesmas raízes. Por que com o judeu seria diferente, e não teria ele mais facilidade de reconhecer a veraz identidade de alguém que nascera de sua cultura e de seu próprio povo? Por que ao judeu há veto de revelar suas críticas acerca dos inúmeros erros concernente a como agiria um judeu, cuja forma de agir é deturpada no livro chamado Novo Testamento, que é exatamente a razão precípua pela qual o judeu jamais poderia crer em seu relato, sendo-lhe mais perceptível os enganos de quem escrevera o livro e desconhecia quase que totalmente o modus vivendi iodeorum, sendo provavelmente um sacerdote muito posterior, provavelmente do século oitavo da era comum ocidental.

Os maiores disquisidores ao pesquisarem determinado caso, seja este de cunho arqueológico ou antropológico, recorrem antes ao conhecimento do povo sobre o qual buscam, de sua cultura, de seu passado, de sua forma de pensar e viver, tanto no presente como no passado, e muitos outros pormenores. Juntando tudo, concluem, sem fechar as portas para possibilidades. Não terminam aqui, mas sabem o que é imprescindível para levantar suas bases. Em nosso caso, porém, é diferente, ou fazem com que seja diferente: toda a tese é pré-existente, e quem for contra, é que estará enganado, seja ele judeu ou não. Como o primeiro em geral nega o fato, e acha-se intrisecamente ligado ao assunto, é mais simples inventar a questão da idéia da miraculosa "cegueira espiritual" que atingira o povo todo, para desfazer-se do difícil problema de como seu próprio povo dele se desfaz. Frases que despertam o lado emocional são usadas para fazer desaparecer da turba o menor indício de raciocínio lógico, e demonstrou sua eficácia por muito tempo, e ainda perdura demonstrando-a no presente. Frases como: "Veio para o que era seu, e os seus o rejeitaram..." - princípio do evangelho de João, 1:11.

Quantos crentes em Cristo pararam para verificar quantos trechos há nos Evangelhos nos quais o relato é impossível que haja ocorrido, simplesmente por não condizer com a conduta cultural judaica no que pertine a seu modus vivendi? Ou, se prefere desfazer-se de tal lógica, pelo menos não o faça com relação à situação do povo no plano histórico, em vários casos, conscientizando-se da impossibilidade de tais acontecimentos simplesmente devido à presença romana! Mas, não! Parece que no caso de Jesus, é permitido desfazer-se de todos os fatores ao redor! Quem, então, é "cego espiritual"? O menos provável é que o seja o judeu, cônscio de como agiriam seus antepassados, e sabedor do que fora o jugo do Império Romano!

Tomemos, como exemplo do que dizemos acima, o caso de Maria Magdalena, flagrada em adultério. Acaso o julgamento judaico se dá por aquela forma? Acaso existe a possibilidade, por mais ínfima, entre os judeus, de que tragam a mulher - e em lugar público - antes sequer de havê-la levado ao tribunal, perante uma pessoa em particular? O relato não condiz com a realidade, nem com a ética juridicial judaica.

O mesmo ocorre com o caso do apedrejamento de Estêvão: não é o modo de julgar judaico, nem a forma de apedrejamento de um condenado. Todo o relato ali mostra que tal jamais se dera, se o leitor entende de judaísmo o mínimo necessário. Mas, para evitar o aglomerado de assuntos, nos resguardaremos do caso de Estêvão, por ser exacerbadamente simplório e claro que trata-se de algo impossível para qualquer teólogo cristão que honra sua enciclopédia bíblica, sem que seja necessário que seja judeu ou tenha muitos fundamentos judaicos para dar-se conta da inanidade desta mendácia tão vil, que seria um labéu para os rabinos.

Também evitaremos referência ao caso de Estêvão por preferirmos não deixar que nossa carta vá além do conteúdo dos evangelhos, e o relato do apedrejamento de Estêvão acha-se em Atos dos Apóstolos, no final do capítulo sétimo. Mas lembramos que também em sua concernência não havia possibilidade alguma que tal ocorresse sob o domínio romano, mesmo que se tratasse de algo normal e permissivo pela lei judaica e costumes farisaicos, o que tampouco é ou era. Outras coisas poderiam ser ditas ainda concernente a este livro em si, mas evitamos, por querermos ser sucintos e diretos à meta precípua, que é nossa reposta, e os evangelhos são suficientes. Portanto, restringiremo-nos somente ao caso de Magdalena, que apesar de simples, é um pouco menos simples de se perceber sua veracidade parca entre os não judeus, especialmente devido ao manto misericordioso com o qual se reveste a estória.

No campo histórico: quantos ocidentais têm consciência de que o relato em si é impossível, já que o Sinédrio estava impedido pelos romanos de tomar qualquer iniciativa em questões de julgamento que pudesse levar o réu a ser condenado à morte? Ou seja: não só não podiam julgar a Maria Magdalena, como não podiam dar-lhe liberdade como o fizeram, sem incorrer em penalidade perante a corte governante romana, após havê-la prendido. O relato torna-se mais sem nexo do que o fato de alguém, sem mais nem menos, achar-se rabiscando na areia, seja o que for... E, se acaso escreve sobre as transgressões de cada um, isto torná-la-ía isenta de penalidade? Não poderia ser transferida para outra corte? Sanedrin sobre o Monte do Templo já não existia, e fora do Monte do Templo, é proibido esse corpo jurídico de setenta e um rabinos pela Torá de julgar casos que levem à morte, mesmo que sejam casos duvidosos. Antes do julgamento, os rabinos não poderiam trazê-la perante uma pessoa só, e nem tê-la como transgressora. Ali, portanto, o relato deve referir-se a pós-julgamento, apesar de que também é proibido, pois em nada poderia mudar a face das coisas, e está expressa esta proibição. Portanto, o caso se dera antes do julgamento.

Mas, a Lex romana na Terra de Israel proibira os rabinos de ocuparem-se destes casos. Portanto, não a trouxeram senão por sua deliberada vontade. Ou, talvez recebesse algo para isto, compensação monetária, ou similar. Mas não. O relato diz que era julgamento e para isto era levada. Portanto, era antes, e os rabinos por acaso passaram ali, á que é proibido que o façam antes ou após julgamento. Por favor, entenda: não trata-se de chiste ou ação bazófia o escrito aqui: simplesmente uma busca de encontrar saída para o caso, para que haja pelo menos a menor possibilidade de que tal haja ocorrido realmente. Sempre, ao final, por mais transgressores que fossem os rabinos, ainda esbarramos nos romanos. Simplesmente, o caso jamais se dera, e foi um invento que o leitor não judeu se enche de admiração e pasmo pelo herói do relato.

O colher espigas no sábado. Mesmo que os feitores de tal ato fossem exatamente os discípulos, ainda restam perguntas que quedam sem resposta para um judeu cônscio do que é judaísmo e pormenores da Lei com respeito ao simples entrar em campo alheio. Qualquer leitor ali perceberá que o campo não pertencia aos discípulos. No tratado Erubin 53b encontramos um relato de Rabi Iehochú'a ben-Ĥananiá que, para encurtar caminho, entrou numa trilha já feita em certo campo. Ou seja - as aparências indicam que o trilheiro já se tornara algo público pelo uso geral. Estando em meio do caminho, avistou uma menina, e esta lhe perguntou-lhe: "Rabi, acaso não é este um campo particular?" Ele redarguiu: "Trata-se de um trilho já conquistado pelo uso público!" Disse-lhe ela: "Assaltantes como tu o conquistaste!"

Aqui percebemos qual a forma de agir entre os judeus, e quanto peso há somente em entrar onde não te pertence. Nada diz com respeito à colheita de algo em campo alheio. Mas, no relato evangélico, a ênfase era dada à profanação do sábado. É interessante que os mesmos rabinos que têm a capacidade de prender a Maria Magdalena só protestem, sendo eles mesmos testemunhas do caso pessoalmente. Acaso não sabe todo judeu que os rabinos que andavam de lugar em lugar faziam-no como inspeção, e dispunham de policiais armados para agir segundo a Lei? Ou este relato não existiu, ou o de Maria Magdalena não existiu. Ou, será que o relato no princípio do livro chamado Atos - depois destes - foi o que realmente ocorreu, e medida para entender a forma de agir de todos os discípulos? Ali encontramos os discípulos tão cuidadosos em não transcorrer mais que o permitido no dia de sábado!... Ou, talvez este haja ocorrido, e ambos os citados acima são fictícios? Então, quem me garante não ser este também fictício?

Magdalena era ou não a esposa de Jesus? Ao ouvir a pergunta, o cristão pensa tratar-se de um injúrio. Mas, se conhecesse melhor a vida judaica, entenderia a razão de tal afirmação. Somente a mulher pode lavar os pés do esposo, ou untá-los (Talmud Ketubôt 59b). Qualquer outra que o faça, é tido como ato de imoralidade. Mas o evangelho não deixa a entender, senão que eles não eram casados... , ou pelo menos assim é aceito no meiocristão. Infelizmente, não tem consciênscia de como agem os judeus.

Ou, será que o caso acima no qual os rabinos trazem-na, fizeram-no por tratar-se de seu esposo?! Então seria mais compreensivo, e talvez até permissivo que a trouxessem. Mas, mesmo assim, ainda é proibido que a prendam pela lei romana vigente na época.

Outrossim, ao entendermos o que significa entre os judeus o servir uma mulher a um homem, fica entendido que realmente esta mulher era sua esposa. Porém, não somente ela, senão várias outras (Lc 8:1-3). Temos então que realmente podemos aceitar como verídico o relato do julgamento citado. Mas, uma olhada de relance, podemos ver que no cap. anterior (Lc 7:36 em diante) uma mulher se achegara a ele e começara a lavar, beijar e a untar seus pés. Mesmo se fosse sua esposa, entre judeus isto não se faz em público. Mas o que nos importa não é isto, senão que a mulher ali citada está claro que não era sua esposa: percebe-se pelo relato que tratava-se de uma estranha.

Portanto, vemos que também mulheres que não eram esposas dele se aproximaram e tocaram-no, e em casa de outras pessoas onde fora convidado! Ou seja, Maria Magdalena não era sua esposa, e a explanação de como chegara a ser trazida perante ele em julgamento ainda é incógnita. Mas, caberá então perguntar acerca de seu esposo, onde estava, e por que razão não há sequer alusão a ele. Seria indício de que trouxeram-na a seu esposo, que achava-se escrevendo na areia?

Admitamos que o relato da mulher pecadora que achegara-se a seus pés (relato acima) deixa muito a desejar. No meio ocidental, pode até ser normal. No meio judaico ortodoxo, nem no presente, e menos ainda no passado! Onde já se viu entrar na casa de outra pessoa assim? Mas, digamos que não era ela muito normal, digo, da cabeça. Perfeitamente explicado, e voltamos ao mesmo ponto. Mas, o mesmo relato de Lucas acerca deste convite de Cristo na casa de um fariseu chamado Chime'on aparece também em Mateus. E, ali vemos que o fato é mais que impossível que se haja dado: o tal fariseu era um leproso, e, como leproso, deveria achar-se fora da cidade. Mas, bem pode ser que sua casa localizava-se fora da cidade. Mas a referência da Lei a respeito não refere-se senão a ser levado para fora do acampamento, e no caso, inclui sua casa, mesmo sendo um ranchinho solitário no campo. Impossível que se convide a alguém, pois o próprio convidador não pode achar-se em casa.

Ademais, em tratando-se de um fariseu - que eram os mais ortodoxos da época - como o convidaria? Alguém, portanto, incônscio destes pormenores, bem como do toque de mulher em homem, sem casamento (que nem o fariseu aqui não percebe!) nos deixa claro que este relato tão incabível foi inventado e inserido no corpo do evangelho posteriormente. Subentende-se que nossa acepção anterior dos fatos com respeito ao conúbio de Cristo é perfeitamente aceitável. Portanto tinha razão de trazê-la a ele os rabinos. Mas, se não podiam prendê-la devido ao decreto romano, como pode ser? acompanhara-os por gentileza, sabendo que seu esposo era perdoador longânime! Quanto ao trazido em Jo 12 - digamos que não se trata senão de outra de suas esposas - Maria, conforme trazido ali, e que não trata-se do mesmo relato. Mas, surgem-se ainda perguntas: por que não fizera o Evangelho menção de tais casamentos? Ou, tampouco aqui tratava-se de sua esposa, ou de uma delas? Aliás, é pouco provável que o discípulo Judas protestasse, caso fosse esposa a agir como agiu.

Portanto, novamente temos que colocar um relato em dúvida, pois do contrário, teremos um Messias com uma imagem muito manchada do ponto de vista judaico, além do fato de todos ali aceitarem o ocorrido como absolutamente comum e normal, que é um fator claramente digno de admiração! E, nós sabemos que não o é, e resta somente uma possibilidade: descartar o relato de possibilidade que haja ocorrido. Mas, isto envolve a ressurreição de Lázaro!... O mais interessante, é que os teólogos cristãos reconhecem o relato da visita na casa de Lázaro e o fato mencionado, com o mesmo que se passara na casa de Simeão, o fariseu, apesar de toda a dificuldade. As ocorrências no contexto (veja Mt 26) com relação à trama farisaica para efetuar a prisão e morte de Cristo ainda deixam campo para pensar que realmente, era Lázaro que tinha dois nomes, coisa comum entre muitos judeus no passado. Apesar de ser difícil entender como Lázaro, após ser ressurrecto dentre os mortos, pudesse ter dúvidas acerca da capacidade de Jesus de saber que tipo de vida pecaminosa levava a mulher. E, assim acabamos por depararmo-nos sem que o planejássemos, com a trama para tirar-lhe a vida. Interessante notar que o sumo-sacerdote é aqui um profeta... - (Jo 11:51) Se houvesse aqui possibilidade de explanar qual a raiz hebraica da palavra "profecia", seria mais claro que a pessoa que escrevera confundira profeta com vidente, ou preditor de acontecimentos futuros, que não é o mesmo. Mas deixemos isto para outra ocasião. Mas, é claro que o escritor do livro não era judeu, e nem mesmo iletrado, só por esta confusão de termos.

Já que percebemos a confusão que há no assunto de o sumo-sacerdote ser um profeta, se buscamos entender melhor quem são estes dois (Anás - Caifás) no livro de João deparamo-nos com outro problema, mais grave ainda. Em Jo 18:19-24 parece que ambos são sumos-sacerdotes. Veja-se o texto. Ou seja, perfeitamente perdemos aqui quem é realmente Anás, pois dois sumos-sacerdotes eu mesmo, como judeu, posso afirmar abertamente, sem medo de errar: jamais existiu. Mas, alguém vai dizer: "Errar é humano. Trata-se de um pequeno esquecimento ou descuido de João..." - A evasiva seria boa, não fosse um apóstolo posterior dizer que tudo foi inspirado pelo espírito santo...

Mas, de pensar que Anás fosse confundido com Caifás, e em determinado trecho no qual um remete o prisioneiro ao outro, lembre-se a pessoa que lê de todos os relatos acima, e examine tudo novamente com um pouco de olhar influenciado por uma leve entonação cultural semítica. A conclusão é assustadora. Mas, só se observar os relatos como cristão!

Aliás, quem foi mesmo Anás? Apesar da confusão de João, é claro que não era Caifás. Anás era chefe do sinédrio, e caifás chefe do sacerdócio, maioral entre todos os filhos de Levi. Anás, nem sequer sabemos de que tribo era. Afinal, pensando novamente como judeu: quem foi Anás? Chefe do sanedrin?? Jamais tivemos um chefe de sanedrin com este nome!! Temos a lista de todos os maiorais dentre os Sábios desde os dias de Esdras até o selar do Talmud - que vai muito além da destruição do Templo algumas centenas de anos, e nada de Anás! Aliás, não conhecemos nomes em hebraico que não dispunham de significado determinado. Anás nada significa em hebraico, nem Caifás: ambos os nomes não existem! Que significa? Que não somente Anás não existira, conforme não consta em nossas listas, senão tampouco Caifás existira!

Mas, bem: descuido meu. Afinal, estou lendo em português, e não cabe senão verificar seus nomes em hebraico, ou em aramaico. Como rabino - conheço bem a ambos os idiomas. Pois bem, hebraicos não são.

Mas a honestidade da verificação dos fatos e sua veracidade leva a pessoa que opta simplesmente pela verdade, e nada mais que a verdade, seja o desejado ou não, a conservar consigo um acervo, e disponho da peshita (documento aramaico do Novo Testamento). Ali, o nome de Anás é ĥanan, nome perfeitamente comum entre nós, judeus. Mas o problema não se resolvera totalmente com a descoberta: primeiro, porquê não temos um chefe de sinédrio em todo o período já mencionado, que tivesse este nome. Segundo, por que ainda se nos falta saber que origem tem o nome do sumo-sacerdote. Mas, se descobrimos um deles, digamos que é suficiente, e prossigamos, apesar de naqueles dias (até o ano quarenta da e. comum) o chefe do sinédrio foi Hilel. Digamos então que alguém confundira o nome Hilel, e transcrevera Ĥanan. Não há nisto possibilidade, pois o evangelho nos relata que Ĥanan era genro do sumo-sacerdote, e Hilel não.

Segundo nossa conclusão, tais pessoas não existiram, conforme indicam as evidências. Será possível que tal poderia ser fruto de imaginação de alguém criativo? Pode ser, mas com certeza, de alguém que desconhece tanto os judeus como o judaísmo, além de história da época.

Ao abrir o primeiro livro do NT, Mateus, a pessoa se depara - caso tenha suficiente instinto de atenção - com uma mendácia irreparável: a contagem das catorze gerações desde David até o exílio. Basta uma pequena inspeção no livro de Crônicas para perceber o fato. Ou seja, em outras palavras, se tal livro já principia com uma mentira assim, por que seria digno de crédito todo o relato posterior? Isto, sem contar com as evidências acima mencionadas.

Seja como for, o NT todo - não somente os evangelhos - termina por não ser um relato fidedigno. Basta saber que outros relatos, escritos por outros pais da Igreja, não foram inseridos ou canonizados por conterem disparates. Ou seja, disparates claramente perceptíveis, mesmo para um não judeu, como a citação do oitavo dia da semana no livro de S. Joaquim, e a semana é composta apenas de sete dias. Comprova isto a não messianidade de Cristo? De modo nenhum!

Mas, o que é certo, o conhecimento de certos pormenores nos leva a sermos mais racionais, mais analíticos. Certo é que se não podemos crer em tais relatos, é de crer-se que foram escritos desde seu princípio de acordo com o trazido nas profecias de forma premeditada. A pessoa ao ler no NT determinado acontecimento que na verdade nunca ocorrera, não deixará de conectá-lo com algo dito anteriormente por um dos profetas. Mas o escrito já foi feito propositalmente assim de modo que haja coerência, por incrível que pareça.

Não havia descendentes de David na Terra de Israel após o retorno da família de Zorobabel para a Babilônia, e isto é fato registrado. Retornaram à Babilônia quando os Macabeus não lhes concederam o direito ao trono. Isto é constatado por determinada afirmação talmúdica. Mas, mesmo que houvessem, o NT afirma ser o Nazareno filho de Deus, o que o destitui totalmente do direito ao trono como sendo filho de David. O relato de sua vida foi escrito de forma a se assemelhar em tudo - especialmente no relato de sua morte - ao trazido em Is 53. Não há, portanto, cumprimento da profecia, senão relato fictício apoiado em tais escritos, com o propósito de convencer as pessoas descrentes em período bem posterior. Se o feitor de tal prodígio entendesse o sentido do que está escrito em Isaías no verso 10 deste mesmo capítulo, não hesitaria em inventar também filhos para Jesus, tratando de cumprir com este pormenor que passa despercebido ao leitor cristão, mergulhado em seu sentimentalismo. O termo hebraico ali refere-se unicamente a filhos em sentido físico. Tampouco deixaria que o "mestre" morresse tão jovem, fazendo com que "tivesse longevidade de dias".

Quanto a Daniel, no princípio do capítulo percebe-se a que e a quem se refere: também Ciro foi chamado Messias. Compare o versículo 2 desse capítulo com Jeremias 25:8-11, e veja o trazido em Isaías 45:1. Ungido e Messias são o mesmo em hebraico.

O messias, portanto, ainda não veio. Veja nossa versão interlinear da Bíblia, e notas que aparecem nesses capítulos.

O verdadeiro Jesus nascera e vivera bem antes no tempo. Foi aluno do grande rabino Iehochúa ben-Peraĥia, e com ele fugiu para o Egito, durante a perseguição e mortandade dos rabinos pelo rei Janeu. Seus discípulos precípuos foram cinco, e não doze, e todos eles foram condenados como ele. Sua morte não foi por crucificação, senão por apedrejamento, conforme prescreve a Lei hebraica. Somente após sua morte foi pendurado numa trave, em sinal de maldição. Vivera e morrera antes que os romanos tivessem total domínio na Terra de Israel. Tudo o que sobre ele foi relatado posteriormente é fictício, como se pode perceber nesta carta. Basta um pouco de conhecimento da cultura judaica e sua conduta de vida naquela época, juntando-se a isto um pouco de lógica, para perceber o fato da inveracidade do relato. Só o fato de a magia ser condenada pela Lei de Moisés e pelo próprio Novo Testamento já deveria levantar suspeitas entre os cristãos a respeito do relato de seu nascimento, quando vêm três magos a visitá-lo e dar-lhe honrarias.

Quem quer ver a verdade, vê. Quem quer viver mergulhado no sentimentalismo, tem livre opção para fazê-lo, desvencilhando-se da verdade pura.

Como vê, argumentos não é o que nos falta. Temos muitos outros, mas seria.necessário a compilação de um livro, e imenso, para abordá-los. Para nós, seria perda de tempo, pois não nos interessamos em "conquistar almas para o judaísmo", conforme é a meta nas demais religiões o trazer pessoas para seu meio. A diferença entre relatos dos apóstolos acerca de locais onde se deram determinados acontecimentos, a interrogativa com respeito a quem comparecera no túmulo após a ressurreição, em cujo ponto todos eles divergem, e muitos outros pontos problemáticos, são apenas exemplos de argumentos, sem contar com a deturpação e falsificação de versos das Escrituras Hebraicas nos livros que não fazem parte dos evangelhos, senão são cartas dos apóstolos. Não me refiro à explanação, senão ao texto em si. Mas, para nós, o importante é evitar contendas. Portanto, evitamos colocar escritos como este entre nossas páginas. Além disso, cremos que não é necessário muito raciocínio para que o leitor do NT se aperceba da verdade.

Rabino J. de Oliveira

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