Para a Lista dos Gueonim de Pumbadita:
Para a Lista dos Gueonim de Sura:
Michnê Torá de Rabi Mochê ben-Maimon
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OS GUEONIM BABILÔNIOS:
breve comentário:

Após o período talmúdico, ou melhor, após o selar do Talmud Babilônio, fica proibido aos sábios de qualquer geração promulgar leis, com exceção de decretos segundo suas classes, desde que não se oponham ao legislado já anteriormente no Talmud. Os últimos rabinos do Talmud são intitulados "amoraím" - isto é, "tradutores simultâneos", conforme eram chamados em sua época os que transmitiam o discurso do Roch Iechibá ao público.

O título "amorá" exprimia a humildade declarada dos Sábios pós-tanaím - os rabinos da época da Michná, que dispunham da "semikhá" - ou seja, autoridade para julgar e legislar em todos os setores da Torá, recbida ininterruptamente desde Moisés e os setenta que faziam parte de seu Bet-Din até os dias dos amoraím (os amoraí da Terra de Israel ainda dispunham da semikhá até o período bizantino).

Devido às perseguições romanas e cristãs, durante e após a revolta judaica na guerra que durara 50 anos (69 a 129 da era comum ocidental), o estudo e o conhecimento da Torá em concernência ao que fora recebido oralmente desde Moisés perdia em muito ao que tinham os Sábios da autonomia judaica babilônica, (apesar de que estes não dispunham de "semikhá") que existia desde os dias de Esdras e Nehemias, motivo pelo qual o respeito dos da Terra de Israel levara ao fato de admitirem a supremacia do Talmud Balbilônio sobre o Jerosolimitano, sendo que o principal fulcro da halakhá é desde então o Talmud Babilônio.

Reconhecendo que com o selar do Talmud os "amoraím" que viessem após a geração de Rav Achê e Rabiná - os que executaram essa ação - já não poderiam ser equiparados a seus antecessores, resolveram então que seu título também mudaria, passando a intitular o que se assentava como maioral no Bet Din ou Iechibá "Gaon", que provém do dito na Bíblia: "Geon Ya'acob" - Orgulho de Jacob, que é na verdade a sabedoria da Torá.

Destes, em gerações posteriores, resolveram que os primeiros de sua ordem, que inseriram suas palavras de esclarecimento dentro do próprio corpo do Talmud, deveriam ser chamados "Saboraím" - derivado da palavra "sabará" - opinião.

Os centros judaicos babilônicos de Torá eram chamados "Iechibá" (em nossos dias, diz-se "Iechivá" - com "v" em lugar de "b"). Era um tribunal similar ao que havia em Jerusalém no período em que o Templo existia. O título "Gaon" era dado unicamente a quem estivesse na liderança. É importante ressaltar que os gueonim não costumaram polemizar e desfazer-se de sentenças e promulgações de seus antecessores, sempre citando três gerações gaõnicas antecedentes para toda e qualquer lei pós talmúdica, e simplesmente citando o principal trecho talmúdico que abrangesse determinada questão. Para reforçar suas palavras, sempre ao final da "responsa" diziam: "...e, assim é o costume em ambas as iechibôt.." - referindo-se à iechibá de Pumbadita e à de Sura, os dois principais centros de Torá mundiais por quase mil anos. Isto faziam por conservar um sistema que não trouxesse dissensão entre o povo em questões de Torá.

Destes gigantes que receberam diretamente dos últimos Sábios do Talmud, receberam Rabi Isĥaq Alfassi e Rabi Mochê ben Rabi Maimon - pelo que diz no prefácio ao Michnê Torá:

34. Muitas questões são dirigidas por pessoas de cada cidade a cada gaon que houver em seus dias, para que esclareça trechos difíceis do Talmud, e este responde de acordo com sua sabedoria. Tais respostas são reunidas e compiladas, fazendo-se delas livros que auxiliem na compreensão [dos específicos trechos talmúdicos].

35. Também redigiram os geonim livros que ajudam na compreensão do Talmud. Deles há que explanaram certas halakhôt, outros que explicaram capítulos inteiros que se fizeram difíceis de compreender em seus dias, outros mais, mesmo tratados (massekhtôt) e ordens (sedarim) completas.

36. Também escreveram leis concluídas concernente ao que é lícito e ao que é proibido, ao que passível de penalidade e ao que é isento dela em todos os setores práticos para o momento no qual for necessário, para que estejam próximos ao conhecimento daqueles que não dispõem da capacidade de adentrar à profundidade do Talmud. Este é o trabalho do qual se ocuparam todos os gueonim de Israel, desde que o Talmud fora selado até esta época, que é o ano oitavo após mil e cem desde que o Templo fora destruído, e é o ano 4.937 desde a criação do mundo.

37. Neste tempo, aumentam-se exageradamente as angústias cada vez mais para todos [os judeus] e não há tempo para ninguém e para nada, [motivo pelo qual] "perdera-se a sabedoria de nossos Sábios, e a compreensão de nossos entendidos se ocultara". Portanto, esses escritos explicativos, "halakhôt"e respostas escritos pelos gueonim, que viram nisto cousas esclarecidas, tornaram-se demasiadamente difíceis em nossos dias, sem que haja quem os entenda, senão pouquíssimos. E é desnecessário dizer sobre o Talmud, seja o babilônio, seja o jerosolimitano, ou Sifrê e Sifrá e tosseftôt, que necessita-se dispor de capacidade mental, sabedoria e muito tempo após o que saberá deles qual é realmente a regra correta a ser tomada para saber as cousas proibidas e as permitidas, bem como as demais leis da Torá.

38. Por esse motivo "sacudi minha roupa" eu, Mochê ben-Maimon ha-sefaradi, apoiando-me na Rocha, Bendito é Ele, e alcancei o entendimento desses livros, achando ser bom compilar as cousas que se esclarecem de todos esses escritos em concernência ao permitido e ao proibido, ao impuro e ao puro, incluindo todos os demais juízos da Torá, tudo numa linguagem concisa e clara, até que esteja a Torá Oral toda ordenada na boca de todo judeu, sem que seja necessário "quchiá e peruq", "este disse assim, e aquele disse o oposto", senão palavras claras e prontas, de acordo com o julgamento esclarecido através de todos esses escritos e explanações que existem, desde Mochê Rabênu até agora,

39. Para que estejam todos os juízos revelados tanto para o grande quanto para o pequeno em concernência a todo preceito, bem como em concernência a tudo o que fora decretado pelos Sábios e pelos Profetas. Em suma, para que não necessite ninguém outro livro qualquer [existente] no mundo acerca de qualquer uma das leis de Israel, senão, que esteja este livro contendo toda a Torá Oral, incluindo todos os decretos classificados como "taqanôt", "gezerôt" ou "minhagôt"que foram decretados desde Mochê Rabênu até o selar do Talmud, de acordo com o que nos foi explicado pelos gueonim em seus escritos pós-talmúdicos. Por isto, chamei a este livro MICHNÊ TORÁ, pois a pessoa lê na Torá escrita antes, após o que lê este livro, tornando-se sabedor de toda a Torá Oral, sem que seja necessária a leitura de outro livro entre ambos.

Busca deixar-nos claro em seu prefácio:
1. - As explicações dos gueonim nos obrigam;, por haverem sido recebidas diretamente dos últimos Sábios do Talmud;
2. - Suas promulgações não nos obrigam - por serem pós talmúdicas, e somente em relação ao Talmud todo o povo é obrigado no que concerne ás promulgações de halakhá em geral.


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