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Como reencontrei-me com o caminho perdido...

A infância:

Nasci numa pequena cidade do interior de Mato Grosso, cujo nome é Poxoréo, oriundo das palavras em xavante - língua indígena autóctone do grupo "jê" - põgubhõ Tchoréu, que significam rio de águas escuras ou inquinadas, na região centro-oeste brasileira,
A medida hebraica de um dedo: apenas a primeira parte do polegar.
pertencente à região amazônica. Meu pai e instrutor - Joaquim Pedro de Oliveira, de abençoada memória - emigrara para a região proveniente do Estado da Bahia, da comarca de Tabocas do Brejo Velho, onde nascera e fizera-se adulto. Seu pai - o sr. Miguel de Oliveira, era fazendeiro e comerciava gado nos Estados vizinhos: Minas - ao sul, e Goiás - a oeste, incluindo o atual Tocantins. Minha mãe, dona Maria Moreira - filha de Galdino Fernandes de Souza e Ana Angélica Moreira Souza - deixara a cidade de Bom Jardim (atualmente: Ibotirama), que situa-se à orilha do Rio S. Francisco, em tenra idade, levada por seus pais para Mato Grosso, onde crescera. Sua mãe, falecera quando ela completara dois anos de idade, pelo que tudo o que recebera de educação de nossa nação foi-lhe transmitido por sua tia - à qual chamava de "tia Diola".

...levando-o a meditar acerca das grandezas da criação! Isto é Poxoréo, onde nasci!
Meu pai, de abençoada memória, segregara-se de sua família dado a seu instintividade temerária, na idade de vinte e cinco anos, rumando ao austro. Após algum tempo em Minas e S. Paulo, pululava em si um novo desiderato: convergir-se às minas de ouro e pedras preciosas da região centro-oeste, chegando, por fim, a Mato Grosso. Ao depreender que deveria tentar a sorte no Paraguai, conheceu uma jovem, da qual se enamorou, com a qual se casou e gerou quatro filhos e três filhas, das quais uma falecera em idade tenra. Permanecera meu pai nesta região até a perempção de seus dias sobre a superfície orbicular.

Não tratando-se de homem ascético, jamais comparecia aos lausperenes eucarísticos, evitando até mesmo o adro, o que me levara a perquirir o porquê do fato ainda aos meus quatro anos de idade, insistindo que me levasse. Todavia, a resposta era sempre a mesma, como convém a uma criança: " - Próxima semana, meu filho, próxima semana!" - e, tal nunca chegou.

A igreja:
a primeira visita

Fui ingresso à escola demasiado tarde (aos oito anos), e quando isto se dera, pela primeira vez tive o prazer de por um fim à curiosidade: as freiras que faziam parte da direção do centro escolar no qual estudava decidiram um fim de tarde levar-nos todos à igreja. Nesse tempo, eu já
"...jamais comparecia aos lausperenes eucarísticos, evitando até mesmo o adro, o que me levara a perquirir o porquê do fato ainda aos meus quatro anos de idade,... a resposta era sempre a mesma, como convém para uma criança: " - Próxima semana, meu filho, próxima semana!" - e, tal nunca chegou."
tinha minhas inquirições curiais sobre a igreja, por simples e natural perspicácia, pois já havia percepcionado que a persignação que se me fôra ensinado em casa diferia deste que se ensinava na escola, e lógico, eu optava pelo que aprendi em casa - que minha mãe aprendeu de minha avó, que, por sua vez, aprendera da sua...

Além do citado sinal, duas outras coisas de igual peso: aprendi que o dia escolhido por Deus e santificado, era o sétimo, e que este principiava no término do parasceve, perdurando desde o arrebol de seu culminar até o sair das estrelas do dia seguinte, e que a fé trinitária fora inovação eclesiástica, sendo impossível que um homem seja isocronamente humano e "deus" , e meu pai asseverava que nem a igreja, nem o consistório, ou o papa possuem o direito de cambiar estas cousas, nem com respeito ao dia sétimo, nem com respeito à questão trinitariana, ou com respeito a outras que dele ouvia de acordo com a idade. Tudo isto era a meus olhos algo de natureza mirífica, pois conforme já dito, meu pai não era um homem religioso. Apesar de estas coisas haver escutado de ambos os progenitores, eu era testemunha ocular do que se passava em casa: afirmavam o que afirmavam, mas nada observavam em concernência ao dia sétimo, com exceção das velas que minha mãe acendia, e que nem sabíamos que tinha a ver com o sétimo dia. Por que meter-se nestas questões?

Quantas e quantas vezes ouvi de minha mãe como guardar o chabat (sábado), como evitar o arrefecer das viandas para o dia consecutivo... Mas, na prática, tudo ficara entre ela e sua tia, dona Diola, que eu nem sequer tivera o mérito de conhecer. Os familiares da mãe de minha mãe eram aparentados com meu avô paterno, provindo eles do mesmo tronco dos Oliveira, fundadores de Oliveira do Brejinho. Meu avô era nascido (provavelmente) em Tabocas do Brejo Velho.

Mas, conforme dizia, matei a curiosidade aos oito anos. Não foi fácil para mim: o sentimento de culpa, de estar fazendo algo errado, não sei de onde se me veio. Eu tremia, mas a curiosidade venceu. Adentrei com todos os demais colegas e as professoras o recinto. Era interessante, haviam lá várias estátuas em tamanho natural, algo atraente, por ser diferente, para uma criança demasiado ligada ao espiritual, mas ao mesmo tempo - tudo era lúgubre, tíbio. A tristeza estampada no rosto de cada estátua parecia eterna. O mundo vindouro delas, ou do que elas representavam, como "santos" quando viveram sobre a terra, parecia um mergulho em um mar de lágrimas, no qual não há sequer oportunidade para um sorriso. Mas, a partir do momento que pude sentir o conflito que havia entre o aprendido em casa e o ensinado na "catequese" - conforme chamavam as professoras e as freiras - aquele desejo pouco a pouco se esfriou, optando por seguir o exemplo dado por meu pai, que todas as tardes designava um pequeno espaço de algumas horas para o estudo da Bíblia (apesar de não praticar religião alguma). Cabe ressaltar que leitura ou estudo bíblico naqueles anos em minha cidade e região não tratava-se de algo comum entre pessoas que não pertencessem a alguma ramificação evangélica, ou protestante, o que deixava qualquer pessoa "com a pulga atrás da orelha", ao ver meu pai agindo daquela maneira.

A primeira sinagoga das Américas, (hispano-portuguesa) - Tzur Israel - Recife - PE.
Com o passar do tempo, a cada vez que me aprofundava na Bíblia, mais me distanciava do que eu era (pelo menos, oficialmente), ou seja, católico. A princípio, evitei aproximar-me de estranhos, mas assim que vieram a mim, e pude perceber que havia certo conhecimento razoável em suas palavras, aproximara-me de grupos não católicos, para buscar entender como entendem o texto lido, e qual o motivo de suas divergências tão variadas. assim, aos doze anos já conhecia bastante, não só da Bíblia, como de vários grupos não católicos.

Contudo, isto entristecia a meu pai, que temia que eu viesse a ser um deles. Assim, algumas vezes recebi insinuações acerca da pessoa do "messias" cristão: " - Aprendi de meus tios que toda a história comentada nos quatro evangelhos sobre o nascimento virginal fora uma invenção da igreja para limpar a imagem conspurcada de uma mulher 'saideira'..."

A princípio, pensei que fosse aquilo uma tentativa de enervar-me por achar-me em permanente contato com os grupos citados, que muito causava-lhe desgosto. Sempre que empeçava a falar sobre sua família e afirmações recebidas, buscava também eu saber de onde é nossa origem. Isto era algo que sempre me preocupara, sem que soubesse exatamente o porquê.

Mas, apesar de ser meu pai o primeiro a entrar no assunto, assim que percebia o rumo que tomava a conversação, respondia com evasivas e desviava o assunto.

Por fim, com os grupos não trinitarianos divergiam minhas idéias por várias razões, especialmente pelo sistema de estudo utilizado. Com os trinitarianos, por motivo da trindade mais algumas coisas. Com os sabatistas ou adventistas, dar-se-ia o mesmo, pois apesar de não haver deles em minha cidade, consegui escritos deles e de seus pontos de vistas, os quais fizeram-nas crescer em mim mais e mais.

Todavia, deu frutos minha pesquisa entre tais grupos cristãos.

O sinal do pacto abraâmico na família:
a circuncisão

A maior descoberta no seio familiar dera-se devido a essa auto-dedicação ao estudo. Através deles, tive acesso a enciclopédias nas quais pude saber de que se tratavam vários termos bíblicos distanciados exacerbadamente da cultura latina, o que dificulta ao leitor leigo entender o que está tão próximo a seus olhos. Através destas possibilidades, descobri ser meu pai circunciso, pois pude notar o fato durante o trabalho garimpeiro. Minhas suspeitas não eram infundadas, e ao dirigir-lhe minha inquirição, a resposta fora inesperada: empalidecera, enrusbecera para novamente empalidecer, e saíra repentinamente, sem nada dizer... Após algumas semanas, disse que eu tenho inquirições demasiadas sobre a família, sobre coisas que ele não sabia ou não podia responder, e que assim que pudesse - me levaria para conhecer minha avó - no Estado bahiano, e com ela discorrer sobre todos os pormenores que me afligem acerca de nossas fontes familiares.

Aos quinze anos pude viajar com meu pai
...descobri ser meu pai circunciso, pois pude notar o fato durante o trabalho garimpeiro. Minhas suspeitas não eram infundadas, e ao dirigir-lhe minha inquirição, a resposta fora inesperada: empalidecera, enrusbecera para novamente empalidecer, e saíra repentinamente...
e conhecer seus familiares. Somente no penúltimo dia de nossa estadia ali é se dirigira a mim meu pai para informar-me que minha avó encontravas-se à espera para ouvir minhas perguntas.

As revelações da avó:
o diálogo da entrevista!

Dona Corina, fitando-me com seus olhos lúcidos e verdes, bonitos, apesar da idade, disse: " Pois não, filho, seu pai disse que você quer saber de onde viemos para aqui, e quero que saiba que viemos de Minas Gerais. Eu e meus pais, nascemos aqui, mas meus avó vieram de Villa Rica (Ouro Preto)."

Ainda um tanto tímido, inquiri: " - E, de onde vieram para Ouro Preto?" " - De Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul..." - A certo ponto da conversa, indaguei: " -Sendo assim, temos nó origem judaica!..." - ao que ela respondeu: " - Não, senão todos somos judeus!". Estupefato, mas ainda sem poder crer no que meus ouvidos ouviam, disse: " - Quem ainda sabe destas coisas concernentes às origens familiares, a ao fato de sermos judeus?" A resposta foi ainda mais surpreendente, significando que meu próprio pai sabia de tudo, sem nunca revelar nada. Ela disse: " - Todos teus tios podem assentir! A qualquer deles que perguntar, poderá assentir de que somos judeus." - Minha avó relatara pelo menos uns trezentos anos de história de memória!

No caminho de Abraham:
a tentativa da auto-circuncisão

Ao retornar para Mato Grosso,
- A certo ponto da conversa, indaguei: " -Sendo assim, temos nós origem judaica?!..." - ao que ela respondeu: " -Não, senão todos somos judeus!".
a direção de minha vida, meu destino, estaria totalmente transformado por estas revelações: busquei meios de aprender hebraico, e tomei a decisão de procurar minhas raízes, e chegar a Israel. Foi então que meu pai me trouxera outra revelação pessoal: que ele tivera a mesma idéia aos vinte anos de idade.

Desde os onze anos já me preocupava em guardar os sábados e comer somente o lícito pela Torá, pelo que em casa eu mesmo me encarregara do abate, deixando de comer da carne que se achava nos pontos comerciais. (Não podia saber que o abate feito por mim tampouco era "cacher").

Agora, após as revelações de minha avó, não suportava o fato de não haver sido circunciso aos oito dias de nascido, como o fora meu pai. O prepúcio tornara-se para mim um fardo, algo angustiante, o qual toda vez que vinha à memória, fazia sentir o quanto me pesava ser um "incircunciso", defeituoso.

Aos quinze anos de idade, busquei um médico, e este inquiriu as razões pelas quais eu queria ser circunciso. após a discussão e as explicações - claro, falsas, pois algo dentro de mim me impedia de revelar a verdadeira razão pela qual buscava fazer aquela operação, e eu ocultava o fato mesmo de meu pai e de todos os familiares.

Ao saber do custo - percebendo que jamais poderia pagar aquela quantia sem revelar o fato a ninguém - decidi comprar eu mesmo todo o necessário e circuncidar-me sozinho. Pensei: " - Se Abraham pôde fazê-lo aos noventa anos,
"... não suportava o fato de não haver sido circunciso aos oito dias de nascido, como o fora meu pai. O prepúcio tornara-se para mim um fardo, algo angustiante,..."
por que não poderia eu aos quinze?!" Não estava cônscio do perigo; somente uma frase martelava em minha mente: "Não sou circunciso! Não sou circunciso!" - repetia-se diz e noite.

Decidi que era chegada a hora. A partir daquele dia já não seria mais "incircunciso". Esperei anoitecer, para que ninguém percebesse. Tomei a direção da mata, com uma lanterna que já havia sido comprada especialmente para a ocasião, e os demais utensílios, que comprei numa farmácia afirmando ser para um trabalho científico escolar.

A grande quantidade de sangue que saíra, porém, ao principiar do corte, me convencera de que deveria esperar por uma época mais apropriada, na qual disponha de meios pecuniários suficientes.

Enquanto os dias se passavam, roupas interiores das quais tive que desfazer-me foram encontradas por meu pai enquanto andava pela floresta. Certo dia, dirigiu-se a mim, dizendo por meio de um sorriso, com franca alegria estampada em sua face: " - Sei que já é circunciso... Encontrei suas roupas jogadas..." Porém ele se enganava: infelizmente eu ainda não era circunciso...

Tomei então outra direção em minhas ações cotidianas relacionadas às origens recém descobertas: resolvi que era-me necessário aprender hebraico, e não sabia como fazê-lo. Através de uma carta enviada à Embaixada de Israel recebi o endereço da Casa de Cultura de Israel, a quem escrevi em busca de adquirir livros. Em pouquíssimo tempo, apesar de não ter com quem conversar, com quem verificar a pronúncia de certas letras que inexistem nas línguas latinas, senão a lógica do raciocínio.

No longo caminho para o retorno:

Aos dezessete anos, dirigi-me para S. Paulo - onde busquei contatar rabinos. Sendo extremamente fechado - levei muito tempo para conseguir revelar algo de minha família. Cheguei a comentar sobre as velas de cada sexta-feira, sobre algumas coisas mais. O principal, porém, que é o relato aqui trazido, jamais pude dizer a ninguém naquela época, devido a ter uma natureza fechada demasiadamente. Até hoje, não sei decidir se isto tem a ver com o fato de ser minha origem de pessoas que por séculos viveram ocultas, e quanta influência há nisto, se há realmente influência, ou se devido ao fato de haver nascido num ambiente que levas as pessoas a serem assim. Ambas são possíveis, pois qo escrever à embaixada - fi-lo usando um pseudônimo, sem que mesmo eu pudesse entender o porquê. Em resumo: tudo o que tinha que ver com judaísmo, minhas ações eram extremamente restritas, e até mesmo secretas.

Muitos dos anussim se queixam de haverem sido rechaçados pelos rabinos, de haverem sido olhados com desconfiança extremista por alguns da comunidade. Uns, desistem. Outros, resolvem manter seu judaísmo em segredo como antes, principalmente após haver estudado um pouco mais através do contato com a comunidade. Apesar de minha recalcitrância, após seis anos de estadia em S. Paulo - também eu tomara a decisão de retornar a Mato Grosso, seguir praticando de acordo com o que havia aprendido até ali, e casa-me com uma prima, ou tornar-me celibatário. Aí o milagre aconteceu: um grande rabino de S. Paulo se oferecera para ajudar, um sábio de uma das famílias mais importantes de rabinos de Alepo (Síria), cuja linhagem rabínica é perfeitamente reconhecida pelos sábios sefaraditas desta geração. (Evito aqui citar seu nome, para evitar ser constrangedor, e por respeito).

O que se passa no meio rabínico (e judaico ortodoxo em geral, por via de regra) ocasionando a forma de agir que têm em concernência a nós - os de origem dos outrora forçados a cambiar nosso viver, nossa fé e nossas sinagogas, é o fato de de serem incultos com respeito ao conhecimento geral.

Até pouco tempo, os rabinos sefaraditas, especialmente, eram obrigados a serem doutorados e a possuírem profundo conhecimento geral (especialmente nas comunidades hispano-portuguesas), o que, infelizmente, não se dá nas comunidades oriundas do leste europeu, que abjetavam e abominam até hoje quase todo conhecimento que não seja "páginas do Talmud" - contrários ao ensinado no próprio Talmud, segundo o qual todo conhecimento nas ciências humanas traz sete vezes mais capacidade no concernente à compreensão da Torá. Isto, quando não se perdem em temas místicos desnecessários. (Não que não seja importantíssimo, e mesmo imprescindível o estudo do Talmud, bem como da Torá Escrita, dos profetas e escritos, mas sim, que sem conhecimentos gerais, não é possível entendê-lo corretamente, coisa que posso provar.)

Dado a este motivo, muitos pensam até hoje que a inquisição é "coisa do passado", algo que ocorrera em 1492, e os descendentes daqueles forçados naquela época "já há muito desapareceram", sendo que se houver deles algum vestígio, já se perderam por casamentos mixtos por "quatro séculos" a fio, não pertencendo já seus descendentes ao povo de Israel.

Caso conhecessem o fato de as perseguições inquisitoriais fazerem renascer a cada geração o espírito judaico nos milhões de brasileiros a cada vez que a este solo era enviado o "visitador", que sempre levava novo ou novas vítimas para julgamento, no qual terminava em sambenito e aleijado, inválido para o resto de seus dias, ou para a fogueira - voltando-se seus familiares mais e mais para o cumprimento parco que ainda tinham do judaísmo perdido, mas principalmente mantendo a endogamia e cuidando que seus descendentes fossem sempre "quatro costados" - isto é - sem ter os avós judeus por ambos os lados materno e paterno - não pode-se ser tido como judeu, entenderiam o quanto difere o caso dos anussim deste que agora presenciam nas Américas e na Europa entre os caros irmãos achkenazitas, que tão rapidamente se perdem pelo que os olhos vêem e o coração deseja.

A endogamia ainda é mantida fielmente por vários núcleos brasileiros, especialmente nas regiões onde mais houve concentração hebraica cristianizada nos séculos passados, mas a consciência rabínica sobre o fato é parca, a ignorância judaico-ordoxa é exacerbadamente proporcional para a história brasileira, pelo que se desfazem dos próprios irmãos em inefável desamor, causando um prejuízo à nação hebraica maior ainda do que aquele que nos fora feito pelos curas e seus conciliábulos, seja em território lusitano, seja em solo brasileiro.

Talvez haja também influência no fato de encontrarem-se esses núcleos fmiliares principalmente nas regiões nas quais o desenvolvimento é lento e o progresso não alcança, a pobreza é permanente e a fome mata a cada ano, como ocorre no nordeste brasileiro, cujos naturais são altamene discriminados pela própria população brasileira, especialmente no sudeste - a região sobre a qual mais se preocupara a inquisição, seja pela quantia de judeus que ali se achavam, seja pela impertinência e recalcitrância com a qual se deparavam a cada vez que julgavam um que tivesse ali suas raízes.

Esta endogamia mantida por séculos foi frugal:
"...a cada vez que a este solo era enviado o "visitador", que sempre levava... vítimas para julgamento, no qual terminava em ... inválido para o resto de seus dias, ou na fogueira - voltando-se seus familiares mais e mais para o ... judaísmo perdido, ... principalmente mantendo a endogamia e cuidando que seus descendentes fossem sempre "quatro costados"..."
hoje encontro-me na Terra de Israel, e muitos (apesar de ser a quantia irrisória em número quando se pensa na grande quantidade de anussim no Brasil e no mundo) também, alguns que conheci aqui, outros que conheci no Brasil.

Após minha chegada a Israel, entrei para uma Iechivá sefardita nas cercanias de Mea Che'arim, onde estudei durante um ano. Após isto, me transferi para o Midrach Sefaradi, onde pretendia tornar-me rabino com o intuito de ajudar aos anussim. Dali, fui conscrito ao exército, para os obuses blindados, e retornei após o serviço militar à iechivá em "'Atêret Cohanim" - atualmente, "'Atêret Ieruchaláim" - iechivá nacionalista, sita no centro do quarto islâmico de Jerusalém, onde estudei sete anos. Daí, após ensinar durante um ano, e tornei ao estudo novamente em um instituto rabínico para formação. Todavia, renunciei (por motivos pessoais e fundamentados na Torá) a ser diplomado.

Os motivos são vários, mas dois são principais: a) o uso da Torá como meio de subsistência está hoje generalizado; b) a Torá tem sido muito usada nas últimas décadas para defesa de ideologias grupais, e a isto junta-se a política. No entanto, apesar disto, Deus me escolhera para preencher este cargo, e espero cumprir com a obrigação pela melhor forma possível, sem esperar lucros pecuniários, e procurando aperfeiçoar-me cada vez mais em meus defeitos particulares - recentemente um tribunal decidira que eu deveria ser rabino, e para o bem geral - ainda que relutante - aceitei, e recebi a "semikhá", esperando não desapontar aos filhos de meu povo, e particularmente, a meus irmãos de história, os descendentes dos "anussim".

Não creio que meu conhecimento em Torá e geral seja suficiente para que eu seja chamado "rabi", quanto mais meus defeitos pessoais, como tem todo ser humano, coisas que mais rapidamente apagarei de mim mesmo com a ajuda de Deus, seguindo o exemplo de Moisés, "rabi" de todo o povo de Israel. Contudo, apesar de pensar assim, não posso desfazer-me pelo que eu penso do que pensam pessoas maiores que eu em sabedoria e virtudes, que foram os que decidiram declarar-me rabino. Seria humildade vã desfazer-me do que pessoas maiores e mais sábias declararam como tribunal, por decisão unânime, e pelo que seus olhos viram e seus ouvidos ouviram. Quem sou eu para por em dúvida sua resolução? Deus sabe o que faz, e eles - Seus emissários - sabiam o que faziam, baseando-se na Torá, e espero cumprir com o que Ele me dera como missão pela melhor forma possível, ensinando Torá e julgando integramente.

Maiores descobertas:
os primórdios da família

Após o relato da avó, cuja alma encontra-se no mundo vindouro com os justos, a consciência judaica me levara avante, mas ao conhecer outras pessoas em S. Paulo de mesma origem - coisa que eu ignorava ainda a existência, pois desconhecia quase tudo o que se sabe hoje acerca da inquisição, pude ver quantas pessoas há de nosso meio e origem que dispõem de fichários que documentam sua história familiar, até saber-se através deles de que família originava-se quando ainda eram reconhecidamente judeus na Espanha ou em Portugal, e quais as ramificações após o câmbio dos nomes de família.

Ao saber que a maioria dos judeus ibéricos possuíam documentos em pergaminho que remontavam ainda às origens tribais do período do Templo, como ocorre ainda com famílias sacerdotais de Djerba, na Tunísia, abrasara-se minha curiosidade ainda mais para saber qual o nome do clã familiar do qual originam-se os "de Oliveira" judeus.

Meus amigos "Fernandes", descendentes dos "Abarbanel" da estirpe davídica, ou outros amigos, como um "Cardoso" de Minas Gerais, que me apresentara toda sua árvore genealógica numa pasta enorme, levando-me aos antigos "Aboab", e outros, levaram-me a sentir certo zelo, aumentando meu anelo por saber quem são os "de Oliveira". Nesse tempo, já havia sido informado acerca do outro lado de minha família, os "Antunes" - exatamente os que eram os encarregados de "manter a luz da origem acesa", lembrando a cada geração sua origem e obrigação para com a mesma no que concerne à endogamia e alguns pormenores mais, cuja origem está nos cohanim (descendentes da casta sacerdotal aarônica), e em cujo brasão levam ainda o emblema de duas mãos em levantamento para a bênção sacerdotal. Mas, meu pai, meu avô, meu bisavô - e assim por gerações ininterruptas - eram "de Oliveira", e eu me perguntava continuamente: " - Quem são? Que somos?"

Os Antepassados:

Encontro do elo perdido!

A princípio, pensei: levitas. Achava que as letras L-V-I que aparecem no nome diziam algo. Mas, na longa busca (que durou vinte anos!), muitas outras possibilidades apareceram. Como não se acham gravuras que indique origem davídica no brasão dos "de Oliveira", e eu já havia descartado a primeira possibilidade, por achar que houvesse alguma conexão com os "zeitune" orientais, e estes não são levitas - comecei a pensar na possibilidade que fôssemos originários da minoria israelita que chegara à Espanha - filhos de Benjamin. Todavia, também este era um engano.

A tradição familiar de em toda geração chamar a um dos filhos pelos nomes "Joaquim Pedro" - levava à possibilidade de sermos oriundos dos filhos do Rech Galutá que vieram para a Espanha. Contudo, a tradição chegou até meu pai pelo lado de sua mãe, cujo tronco principal é "da Silva".

Ao dialogar com outras pessoas de origem "de Oliveira" fui informado ser a família de origem dos descendentes de David, e após encontrar um "Joaquim Pedro" em minha família por volta do século XVI que era de Oliveira, comecei a aceitar esta possibilidade com mais afinco, mas necessitava encontrar os primórdios da família, e que nome tinham antes da conversão para que pudesse aceitar o relato como fidedigno, visto que a pessoa afirmara, mas não trouxera documentos. Em sua afirmação, porém, algo de verdade que ainda não tinha consciência - os "de Oliveira" não têm origem em Portugal, senão na Espanha, e na Espanha pude averiguar a veracidade disto, em Madrid.

Porém, era esta a única verdade no relato: a verdadeira origem era bem outra, no que concerne às tribos de Israel!

Os "Benveniste":
minha grande família!

A família de Rabi Abraham Benveniste (nascido em Soria, província de Cáceres - Espanha - em 1433) - descendente de Rabi Zeraĥiá ben-Its'haq ha-Levi - falecido em 1186 da era comum ocidental - (chamado ha-Its'hari por remontar sua genealogia aos filhos de Its'har, irmão do pai do profeta Moisés), recebera este nome por intervenção de um dos reis de Castela, acompanhando-o um título de nobreza, lograra fugir da Espanha ainda pouco antes do decreto de expulsão (que se dera em 1492) confinado aos judeus para os países bálticos.
Brasão dos Benveniste - Três "flores-de-Lis" aludem à terceira tribo de Israel - Levi - e o brilho no centro alude a Rabi Zeraĥiá.
Parte da família, porém, trasladara-se a Portugal, onde havia liberdade religiosa plena, e os judeus espanhóis tinham apenas que pagar uma taxa para refugiar-se ali.

Com o batismo forçado em massa em Portugal, a família, foi divida em três facções nominais, "Oliva-Cávia" (mais tarde tornara-se "Oliver-Cavia"), "del Medico", (posteriormente tornara-se na Itália "dal Medigo"), e "de Oliveira". O motivo dos nomes intrinsecamente ligados à árvore de cujos frutos se produz o azeite, é simples: o nome do antepassado comum bíblico (Its'har) - que significa especialmente azeite de Oliva. "Del Medico" não se sabe exatamente o porquê, mas provavelmente por ser uma profissão difundida entre os judeus, especialmente na idade média na Península Ibérica.

Enfim, somos levitas, descendentes de Rabi Zeraĥiá ha-Levi de Gerona, que escreveu os livros "ha-Maor" ("O Luzeiro") e "ha-Maor ha-Qatan" ("o pequeno luzeiro"), cujos títulos aludem a seu próprio nome - "Zeraĥiá" - "Deus faz luzir".

Rabi Zeraĥiá trasladara-se para o sul da França, e seus escritos foram principiados ainda na idade de dezenove anos. Retornara à Espanha, e de seus descendentes há os que transferiram-se para a região central espanhola, e os que tornaram ao sul francês. Dos primeiros origina-se o ramo Benveniste, dos outros - os ramos asquenazitas "Horovitz", "Segal", e "Epstein" (os levitas; existem os "Epstein" não levitas). Deste ramo destes filhos de Itzhar, filho de Qehat, filho de Levi, é conhecido especialmente o grande líder do tribunal rabínico de Novardock, rabi Yeĥiel Mikhal ha-Levi, autor do famoso compêndio de halakhá chamado "'Arukh ha-Chulĥan", e seu filho, Rabi Barukh ha-Levi Epstein, que escrevera o livro "Torá Temimá" sobre a Torá, testifica sobre o fato em sua outra obra "Meqor Barukh", onde diz que são "uma família de anussim que vieram da Espanha para a Holanda, onde encontraram auxílio e proteção de certo grande ministro, cujo sobrenome era "Epstein", pelo que adotaram-no em sinal de reconhecimento e valor pelo esforço efetuado por eles".


A DÁDIVA DE DEUS!
A esposa!

Há alguns anos fui enviado ao Brasil para a averiguação de grupos em determinados setores do Brasil que se auto-organizaram como comunidades independentes.

Apesar de a organização de tais comunidades não haver preenchido todos os requisitos necessários para que se pudesse levar a uma luta que desse frutos perante o rabinato israelense, e também por falhas dos órgãos israelenses envolvidos no envio de minha pessoa ao Brasil para tanto - não dera grandes frutos minha estadia ali. Outrossim, lograra receber de Deus a recompensa pelo esforço pessoal nesta complicada tarefa, para a qual me prontifiquei. com carinho e fé. Em Goiânia, conheci a admirável família "Silva-Cruz" - cujo progenitor é o senhor Elichá', que se tornara em pouco tempo meu sogro.

Minha esposa - conforme eu sempre quis que fosse - provêm de uma família de anussim do Rio Grande do Norte, e demonstrou tanto a mim como a todos os que a conheceram seu valor, ao decidir acompanhar-me para que efetuássemos nosso conúbio aqui na Terra de Israel, em um dos assentamentos sobre um dos cômoros da região da Samaria, rodeado pelas montanhas de Efraim. Ela foi (e é) o consolo de muitos anos de espera, de vicissitudes inesperadas, um verdadeiro presente divino.

Brevemente, com a ajuda de Deus - esperamos trazer a seu pacto o fruto primeiro de nossa união: meu primogênito, a continuação na Terra de Israel desta família que conseguiu superar os quatrocentos anos da inquisição portuguesa. Casamo-nos em Ade Ad, onde vivemos, onde tornamo-nos a sétima família a tornar seus habitantes, e a primeira a realizar nela a cerimônia do pacto conjugal .

Aos demais descendentes dos "anussim":
uma pequena carta

Ao caro amigo e irmão: Também eu fui rechaçado, expulso de ambientes de Torá. Devemos tudo suplantar, é este o grande teste ao qual somos submetidos por quem devolverá em breve sua presença a Sion, com o Templo reconstruído! Jamais podemos perder o ânimo e a esperança de reaver o que é nosso por direito e por herança! Se não conseguirmos através do corpo rabínico atual, que parece às vezes insistir em desconhecer nossa existência, devemos abrir nossas sinagogas nós mesmo, sem preocupar-mos com o reconhecimento geral.

Apesar de que toda e qualquer ajuda no sentido de nosso retorno ao judaísmo seja realizado de forma reconhecida pelo público judaico geral, sendo importante lutar por isto até certo ponto, cada um de acordo com suas capacidades, devemos sempre lembrar de que não dependemos deles, senão para obter um papel que nos dê entrada ao Estado político situado na Terra de Israel. Somos judeus independentemente de adquirir tal papel, podemos abrir nossas sinagogas onde quer que desejemos, desde que vivamos em um país que defenda a franca liberdade religiosa. Após algum tempo, se agirmos assim, com certeza o mundo judaico geral não poderá conservar-se de braços cruzados.

Devemos ser fortes e lutar, abrir iechivôt e construir nós mesmos nossas miqvaôt. Exemplo, já foi dado no passado na Holanda: quando os rabinos europeus insistiram em não nos reconhecer - foi levantada a mais rica comunidade sefaradita européia na Holanda. Temos entre nós mesmos quem nos ensine, em nada dependemos de outros. Ao fim, veremos que vencerá a verdade histórica.

Outrossim, a esta altura de minhas palavras, é importantíssimo ressaltar que ao fazermos isto, devemos tomar o máximo de cuidado com os missionários infiltrados, que se utilizam de nosso nome para fazer vítimas, tanto em nosso meio com entre os demais judeus, além de conspurcarem nosso nome em relação aos demais, assunto por demais pernicioso - nem visitar suas "sinagrejas".

Aos descendentes dos anussim que por eles foram contatados, e encontram-se perplexos, sem saber que caminho seguir, bem como todo judeu - sefaradita ou achkenazita - aqui tem meu endereço, e alegrar-me-ei em esclarecer toda e qualquer dúvida com respeito a esse tópico, que confunde e leva muitos hebreus à perdição pensando que sem crer "em um machiaĥ sem pai", não obterá o favor de Deus e a "salvação".

Buscamos o êxito dos descendentes
"...Não dependemos deles... Devemos ser fortes e lutar, abrir iechivôt e construir nós mesmos nossas miqvaôt. Exemplo, já foi dado no passado na Holanda..."
dos forçados pela inquisição , que consigam efetuar seu retorno sem problemas, sem lágrimas, sem sofrimentos. Esperamos ser úteis. Não buscamos solucionar casos - simplesmente ajudar e aconselhar, assim como direcionar aos principais órgãos e pessoas em particular que auxiliam e servem de apoio aos anussim na longa e difícil (ou dificultada) jornada ao retorno! Outrossim, pretendemos tornar-nos um órgão, em Israel, que sirva de apoio para os que venham - em todos os sentidos, incluindo assistência material e espiritual. Esperamos que pessoas interessadas em concretizar este plano nos contate, e já não será um sonho!

Juntos e altruístas, poderemos vencer todas as dificuldades, não importa suas causas! Aprendendo a praticar o que se chama ahavat israel - o mandamento do amor de um hebreu para com o outro - todas as barreiras se desfarão perante nossos olhos!



rabino@judaismo-iberico.org

União Sefardita Hispano-Portuguesa

POB 443 - `Elí - Gush Shiloh
DN Binyamin 44828
Israel

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