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Entre os assuntos mais promíscuos, nos quais mais houve (e há) opiniões e divergências, entre filósofos, teólogos, grupos religiosos, facções dentro dos próprios grupos, ordens esotéricas, e por aí vai - é esta questão: a natureza espiritual do ser humano. A nós, não nos interessa todos os detalhes, sendo-nos suficiente o saber que existem, e quais são, onde divergem, e isto - para nós mesmos, evitando confundir a mente dos leitores. Portanto, após lembrarmos por leve alusão que há os que pensam ser a alma "fruto da aquisição de conhecimento geral", especialmente o filosófico, e há os que dizem que "a alma é o próprio sangue do ser vivo", e os que dizem ser a "força vital o espírito", sendo a alma "uma outra natureza", mas igualmente mortal, e que a alma morre com o corpo e espera pela ressurreição, que se pensassem com um pouco de lógica - entenderiam ser simplesmente uma "nova criação do nada", posto que não há "recriação para algo inexistente", senão "criação" (em heb.: "bará - criar a partir da não existência - ou seja - a partir do nada") e ressurreição, não há,, pois como não se pode dizer que "Deus fizera ressucitar o mundo", pois este simplesmente não existia, da mesma forma não poder-se-ía aplicar o termo "ressurreição" para algo inexistente.

Há os que se baseiam no hebraico para tais afirmações, e os que se apóiam no hebraico e no grego antigo, deixando de importar-se com regras importantéssimas do idioma hebraico que chamo aqui de "palavras ou termos associados", ou seja, que são usados com diversos sentidos. Um deles é "alma" ("nêfech"), o outro é "ruaĥ", e outro - "nechamá". Comumente - traduzem-se "nêfech" e "nechamá" como "alma", e espírito -"ruaĥ".

O termo "anima" latino - o original significado de "alma" em idioma portuês, não tem muito que ver com o sentido simples do termo grego "psikhé" - que tem a ver com "mente" - mas qualquer pessoa dotada do mais parco grau de inteligência perceberá que os antigos romanos herdaram dos gregos sua cultura, principalmente no campo religioso, pelo que o termo "psikhé" grego tinha também o mesmo sentido que tinha o termo "anima" para os romanos.

outrossim, apesar do prorrogar destas palavras, que dá-se devido à necessidade de deixar claro que certas ideologias doutrinárias falharam ao despir do grego, do latim e também do hebraico suas regras de palavras com sentido diversificado, e seu engano é tão grande, que tudo o que lhes importa é citar provas e mais provas de sua forma de pensar, deixando o intelecto em profundo descanso no que confere às disquisições gerais que interferem nas culturas dos povos, em defesa ideológica pessoal, egoisticamente.

Todavia, esta nota encontra-se perante o leitor estudante do judaísmo, e já que é o que nos interessa - disto vamos tratar - deixando de lado as observações anteriores transcritas mui sucintamente, sem abrangência exacerbada que poderia dificultar para o leitor mais ainda a compreensão deste pormenor tão importante: a divergência que há entre os israelitas na atualidade acerca do que é a "alma".

Rabi Mochê ben-Maimon, que escrevera aqui estas palavras (no capítulo oito) foi aluno dos que receberam diretamente tudo o que foi transmitido de geração em geração desde os Sábios do Talmud e dos profetas, os geonim da Babilônia, pelo que o que traz aqui é similar às palavras de Rav Sa'ádia Gaon (gaon de Sura desde 928 até 942 da era comum ocidental), o primeiro a escrever contra a crença na reencarnação que principiava a tomar espaço entre alguns judeus de sua época, dizendo: "...alguns, que se fazem chamar "judeus", e crêem na metempsicose...". - (no livro "Emunôt e de'ôt")

Na idade média, nascera o misticismo "judaico", uma série de crendícies que, após expandir-se entre os filhos de Israel, especialmente no oriente, que não foram-nos transmitida através dos geonim -sucessores dos amoraim, os últimos Sábios do Talmud.

Com a expansão do esoterismo entre os judeus - veio também a magia - branca e negra - e não faltaram rabinos (como não faltam ainda hoje!) a justificar tais práticas como estando o mundo dividido por "lado de santidade e luz" e "lado das trevas, ou impureza espiritual", afirmando ser todas estas práticas que Deus nos proibira no Sinai "santas, e, portanto, permitidas para quem leva a vida em santidade, em estudos místicos".

Essas classes, que mais tarde tornaram-se três - os séquitos da cabalá de Rabi Mochê Cordovero, os seguidores do R. Isaac Luria orientais (dos países árabes e da Terra de Israel), e os ocidentais (ĥassídicos) Seus principais pontos de discórdia, foram: 1) se Deus criou tudo - como podemos afirmar que Deus desse espaço para uma existência alêm da sua própria? Poderia se resumir? - estes afirmam estar Deus em tudo, e que a existência do mal se dá devido às lutas espirituais em nosso plano material, influenciado por ambos os lados, o "lado da luz", e o "lado da escuridão". 2) A questão do uso das práticas mágicas, recebidas "diretamente do Sinai, de Moisés", ou até mesmo "de "Adam ha-Richon", o primeiro homem, que recebeu do anjo "Raziel", o "anjo do mistério".

A cabalá (sem divergência entre as três facções citadas) dividira a alma em cinco almas, de acordo com os nomes utilizados pelos Sábios no Talmud, que são:

  1. Nêfech;
  2. Ruaĥ;
  3. Nechamá
  4. Ĥiiá (alguns dizem: "ĥaiá")
  5. Ieĥidá. Segundo esta divisão - têm-se como explicar o "fato" de ser a quantidade de "almas judaicas" um número decisivo: 600.000 almas - raízes. O que há hoje, são centelhas.

    As reencarnações, segundo esta forma de pensar, são algo demasiado complexo para o entendimento da pessoa simples, sendo que às vezes poderia reencarnar-se somente um dos elementos (com excepção dos dois mais elevados - ĥiiá e Ieĥidá -cuja elevaçã não lhes permite contato com o mundo material). E, apesar de toda esta divisão, e da divisão em centelhas desde o Sinai - cada cinco almas, e cadas centenas de centelhas é apenas uma alma. (ver Rabi Ĥaiim Vital, Cha'ar ha-Gilgulim [portal das reencarnações], especialmente no cap. 4 sobre as reencarnações complicadas e no fim do livro acerca das "almas-raízes e suas ramas").

    A forma de crer trazida até Rabi Mochê ben-Maimon (e muitos outros, mesmo posteriores a ele) diretamente segundo o recebido dos sucessores dos amoraim - não só não alude à reencarnação, como nos traz uma imagem bem simples do que é a alma. Seu antecessor, Rav Sa'ádia Gaon, deixa bem claro, aludindo ao verso de Zacarias 12:1, que "o número de almas é decidido por Deus, quando este decidir interromper a formação de novas almas" (livro citado), e afirma que "cada alma é formada em conjunto com seu corpo, durante a formação do feto no ventre da mãe".

    Pensamos ser mais importante aderir aos antigos, e aceitar algo do qual se sabe que a transmissão é fidedigna, sem interferir no pensamento de muitos, nem em suas ideologias espiritualísticas.

    Em tratando-se de assuntos pertinentes à techuvá - aludimos a mais este ponto importante para nosso povo em geral. E, apesar de representarmos aqui a minoria - lembremo-nos que a verdade jamais teve por amiga a maioria.

    Quem poderia imaginar o que nos ocorreria, caso no êxodo no deserto, a tribo de Levi pensasse estar a verdade com a maioria quando da adoração do bezerro de ouro?!

    Jacob de Oliveira, ha-Is'hari .



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