Introdução às Leis de Chabat.
(Nesta página em especial o chabat será
também chamado pelo nome que
tem essa origem em idioma português
- sábado.
Cabe-nos, portanto, lembrar ao leitor
que a referência é
ao sábado bíblico -
de pôr-do-sol de sexta-feira
ao sair de estrelas do dia seguinte.)
O preceito do chabat divide-se em três pontos principais:
a guardia, a observância e a santificação.
Estes pontos que aqui chamamos de três, na verdade são dois.
São as ordens
chamor vezakhor. Dissemos que são três devido ao leigo,
fazendo o terceiro que seja
zakhor, e o primeiro e o segundo a divisão da
ordem de "guardar o chabat".
O leigo às vezes se confunde em diversos
pontos concernentes a este preceito. Portanto, queremos lembrar que há
no preceito
"chamor" duas classes de mandamentos, e em
zakhor, apenas uma:
-
GUARDAR - cumprindo com o preceito positivo em si;
-
GUARDAR - guardar-se de não transgredir
as proibições respectivas, que é preceito negativo;
-
ZAKHOR - preceito único, que ordena a lembrar o chabat para o santificar.
Devido a nossas páginas serem direcionadas
também a judeus afastados demasiadamente por
diversas razões, como por exemplo os que foram
atingidos pela inquisição e vivem em
ambiente cristão,
cremos ser imprescindível esclarecer pormenores
concernentes não somente ao chabat,
senão também aos
"cumpridores da Lei de Moisés entre os gentios",
que são grupos que crêm no que crêem,
e diferentemente de demais cristãos, pretendem
que são obrigados a guardar
parte da Lei.
Nada temos com o que
fazem ou deixam de fazer, não nos interessa,
e seríamos totalmente indiferentes,
não fosse o fato de alguns judeus
às vezes recorrer a tais grupos para deles
aprender acerca de sua forma de guardar o chabat,
e acabarem por aderir à fé
pseudo-hebraica,
por falta de orientação adequada.
Após quatrocentos anos de resistência inconcussa
em situações precárias e periculosas,
por que no séc. xxi cairiam vítimas
de tal, por falta de conhecimento simplesmente,
e não por força e tortura?
Os grupos que mantém-se presos à Bília,
esquecem-se ou desfazem-se de pormenores importantes.
Na verdade, não fosse o clero pelo qual é
tal público dirigido, há muito debandariam
e fa-se-íam mais esparsos que ovelhas sem pastor.
Enquanto isso, acusam os judeus e os rabinos de
"inventarem
leis e métodos pesados,
para fazer pesar sobre o povo judeu".
Devemos levar em conta, que...
- ...
a Torá escrita não nos
fornece suficientes pormenores
acerca de como guardar o chabat;
-
...não é racional a afirmativa
de que não haja sido dada
no Sinai a forma correta de guardá-lo;
-
...se pensarmos que cada um
"entende segundo o que leu",
e "deve proceder segundo o que entendeu",
a Torá seria um "livro de confusão";
-
...os tradutores da Bíblia (não judeus)
originaram-se de cultura e forma de pensar,
religião e dia a dia em todos os pormenores
muito distintas do povo cuja guardia do chabat foi
transmitida de geração em geração. Não são,
portanto, fonte fidedigna para nenhum
tipo de verificação de pormenores
da Lei Hebraica.
-
...obrigatoriamente, há um
modelo-padrão dado no Sinai por Deus,
para que através dele seja o sábado guardado.
O MODELO PARA A GUARDIA DO SÁBADO:
|
A vida do filho de Israel, após
a outorga da Torá no Sinai,
palpita em torno de um centro físico,
que é o Templo, e um espiritual,
que é o sábado.
Com uma melhor olhada
nestes dois em conjunto, onde fluem-se,
pereceberemos que no local do Templo,
a guardia do sábado é exatamente o que
fora dele seria sua profanação.
Ou seja, há um elo de ligação,
pois eles se fundem em um só.
Para ajudar ainda mais a alguém que
possa ter dificuldade de entender, seja por que
motivo for, esclarecemos:
O estereótipo do chabat é o Templo.
Ou melhor, o tabernáculo levantado no deserto,
que é a origem do Templo.
QUAL O ELO ENTRE O TABERNÁCULO E O SÁBADO?
|
Todo idioma é necessário não
só o bom conhecimento de suas palavras como um
"dicionário ambulante de carne e osso", senão
mais dois pormenores que a este se juntam, para que
a pessoa possa ler e entender exatamente o que lê:
- ter familiarização com a cultura,
o que implica na compreensão dos
termos do idioma em referência
segundo os padrões do povo que fala
tal língua (traremos exemplo abaixo);
- Entender - caso seja o sistema de pausa
ao falar diferente de seu sistema no
qual crescera e fora educado - o sistema
de pontuação,
conscientizando-se de que o pausar
em determinado lugar em uma frase em lugar
que em outro idioma poderia nada
significar, pode indicar muito.
Para o primeiro caso, citaremos como
primeiro exemplo o termo hebraico chulĥan
(mesa). Nos tempos bíblicos, as pessoas acostavam-se
em divãs para a refeição.
Comia-se em posição muito diferente da comum hoje
no ocidente. Pequenas mesinhas eram enviadas
através dos servos, e depositadas perante os divãs.
A mesa era enviada, e a palavra chulĥan
deriva do verbo chalaĥ=enviar.
Ou seja, o sentido da palavra mesa hebraica não
tem a ver com o mesmo termo em aramaico (Pethorá)
nem em árabe
(Tâulah), apesar de serem idiomas
de mesma raiz. Muito menos terá a
ver com a palavra mensa (origem de mesa) latina.
Todos eles provém de idéias totalmente diferentes.
Como segundo exemplo, traremos o termo paz em português.
Sua origem latina (PAX) indica "ausência de guerra".
Entre os árabes, a palavra "salam" significa paz.
Mas, não transmite a mesma idéia: ela deriva do termo
árabe que dá o nome à religião islâmica:
islam
- render-se. Apesar da sonorização
do termo assemelhar-se ao hebraico
"chalom", nada tem a
ver com a idéia de chalem,
que em hebraico significa "perfeito, completo, pleno",
que é a origem do termo "chalom".
A palavra "render-se" em hebraico é
"keni'á",
e como verbo, "nikhná'".
Ou seja, cada povo vê
a mesma coisa por formas muito diferentes,
ou às vezes o que existe na mentalidade de um inexiste na
do outro. Para o romano a "paz" em termos judaicos inexiste.
Para os aguerridos árabes, paz é fruto da guerra,
sem a qual não pode haver.
Isto se percebe na própria raiz da palavra "salam".
Quanto às pausas ou
pontuações - para o leitor latino,
não fará diferença a pausa:
"Estas, são as coisas, que ordenara Deus..." -
Ex 35:1-2
O latino, e talvez todo ocidental, mesmo não latino,
não faria menção do sinal diacrítico
chamado em hebraico "ietibh" que aparece
sob a palavra hebraica "Êle" (estas).
Os Sábios chamam a atenção
para esta obrigatória pausa na leitura,
diferente das demais pausas. Ela indica algo.
É como uma pessoa que fala apresentando algo
ao mesmo tempo.
Moisés apresentara ao povo
os trabalhos que foram feitos na construção
e levantamento do Tabernáculo. Cada um destes trabalhos
tornara-se proibido que sejam feitos no chabat. Não há aqui
uma "liberdade de interpretação", nem tampouco ela
está entregue a este ou àquele líder religioso,
de qualquer credo ou nação. Os preceitos de Deus não
são desordem. O que foi escrito, porém, foi somente o essencial,
e com a precípua intenção de que servisse de testemunho. -
Dt 31:26.
Claro que cada preceito divide-se em
pequenas particulariedades características,
que compõem a forma
pela qual deve-se cumprí-los.
Estas características e pormenores pertencem
unicamente ao povo ao qual a Torá foi dada,
pelo que foram outorgadas oralmente.
Não nos referimos aqui aos
decretos rabínicos,
nem tampouco às
promulgações posteriores segundo a necessidade da época e do povo,
(Dt 17:11)
senão ao que Deus dissera a Moisés,
e este aos setenta anciãos
(
Nm 11:16,17 - o primeiro sanedrin),
e estes ao povo em concernência
a cada preceito trazido na Bíblia.
Em resumo, há uma lista do que é proibido fazer no chabat,
e isto por que "Deus é Deus de ordem, não de confusão".
Trinta e nove trabalhos foram feitos no levantamento do tabernáculo,
e são eles
as raízes
dos trabalhos proibidos no sábado,
e não as interpretações.
TERMOS ESPECIAIS PARA COM O CHABAT NA HALAKHÁ:
|
Devido ao linguajar semítico
não corresponder aos idiomas latinos,
as palavras e expressões
relacionadas com as leis de chabat
na Lei Hebraica pertinentes à
incorrência em transgressão
ou penalidade, às diversas
classes de ação ou regras e medidas,
traremos em hebraico, com uma página especial
para sua abordagem e explanação.
Termos como
"patur", podem parecer simples à primeira vista,
mas ao depararmos com
meqom petor, ou como dizem alguns:
maqom patur, deparamo-nos
com dificuldade de tradução, ainda que possível.
Como nossa meta é dupla - primeiro, transmissão
de idéia, para o que é mais aplicável a não
tradução de termos, senão sua utilização explicada e memorizada;
segundo - por ser nossa segunda meta levar o judeu mais simples e mais distante a familiarizar-se com
o uso de tais termos em sua origem, conforme se faz em toda comunidade praticante normal em qualquer parte do globo
Portanto, organizamos uma lista de termos,
semelhante ao glossário que fizemos. Este continuará em seu lugar,
com sua devida meta. Aqui, restringiremo-nos a termos concernentes às leis de chabat.
Para entrar, basta apertar em "termos".
AS LEIS CONCERNENTES AO CHABAT NO IAD HA-ĤAZAQÁ:
|
O rabi Mochê ben-Maimon
compilara toda a lei talmúdica
em todos seus pormenores, e em todos
os setores da Torá, e isto é
algo que já deixa claro em seu
prefácio. A meta precípua é
que todo judeu - tanto o judeu simples
como o sapiente - tenha acesso
a toda a Lei Oral no que concerne
a todas as leis da Torá em tudo
o que pertine aos pormenores mais ínfimos
de cada preceito. Isto, tanto no campo concernente
ao recebido oralmente no Sinai diretamente de Deus,
ao renovado pelo Sanedrin de cada geração,
conforme está escrito
"Ki ipalê mimekhá davar.."
(Dt 17:8),
ou concernente aos decretos do sanedrin como corpo jurídico teocático,
conforme é trazido em
Dt 17:11.
Nas leis concernentes ao guardar e santificar o chabat,
porém, a primeira preocupação deste
grande mestre foi trazer as regras para
o uso destas leis em toda geração futura.
Basta estudar por ordem, conforme já explanamos no
prefácio acerca do funcionamento metódico do hebraico michnaico,
que foi o que utilizara o RAMBAM na
compilação do Michnê Torá.
O hebraico michnaico, distintamente do hebraico bíblico
e do hebraico Israelense, exige leitura contínua, do princípio
ao cúlmino do assunto, capítulo após capítulo,
sem deixar nada pela metade. Assim, nos primeiros capítulos deste livro
o RAMBAM traz regras principais,
e demais regras perceber-se-ão
durante a leitura dos capítulos,
ao aprofundar-se no estudo.
É importante lembrar que - apesar de já
haver sido dito nas Leis de Estudo da Torá
acerca da importância do estudo e reestudo sempre a vida toda,
com respeito às leis aqui trazida somente a pessoa que o fizer,
e bem, poderá realmente estar guardando o chabat como se deve.
Cremos ser importante lembrar novamente aqui que muitos rabinos do passado,
grandes sábios, em diversos pontos discordaram
do RAMBAM, também nestas leis. Mas, nenhum dos sábios - nem do passado
nem do presente - foi tão fiel às fontes talmúdicas como o RAMBAM,
ou dispôs de escritos antigos sobre os quais pudessem apoiar-se sem medo de errar,
como o RAMBAM, incluindo regras de legislação do Talmud. Parte destas coisas pode
ser claramente percebida numa leitura atenciosa do prefácio ao Michnê Torá.
Nosso principal aconselhamento é que
o estudante em nossas páginas memorize
cada regra já desde o princípio
dos primeiros capítulos.
Rabino J. de Oliveira