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| As Sete Leis de Deus à humanidade |


Pergunta: Gostaria que me explicassem o que é a fé na ressurreição, e que lógica há nisto. Não seria muito mais lógico crer na reencarnação? Como voltaria alguém que foi incinerado voltar a viver após mil anos ou mais? Sou judeu, li escritos dos hassidim acerca da reencarnação, mas nada vi de explicação sobre a ressurreição.


Resposta:

Caro D., sua pergunta é deveras importante, e crucial no judaísmo. Enquanto que a fé na reencarnação é algo opcional - crê nela quem quiser crer, e quem não quiser não é obrigado - a fé na ressurreição é obrigatória, e a pessoa que dela descrê perde seu direito à herança no Mundo Vindouro.

Isto, sem contar que a fé na reencarnação é algo estranho a nossos antepassados, como escreve Rav Saádia Gaon (sec. VIII) em seu livro "Emunôt veDe'ôt": "...alguns que se fazem chamar judeus, e crêem na reencarnação...".

A crença na reencarnação é um estereótipo inculcado no meio dos judeus a partir da Idade Média através da difusão do misticismo cabalístico, que a transformara em uma divisão complicada de almas e centelhas de almas, coisa que não é simples explicar, mas que tampouco é racional. O modo antigo dos que conceberam esta fé javânica entre os filhos de nosso povo, sua origem é remota, e encontra-se nos antigos egípcios e nos magos de um antigo povo que habitava a região mesopotâmica chamada Sobba, de origem e cultura babilônica, é o mesmo comum ao modo de pensar dos hindus e outros. A estes critica Rav Sa'ádia com veemência e austeridade, por admitirem uma forma de fé que não se origina de nosso povo ou da Torá. A forma de crença nesta fé grega entre os judeus é muito diferente daquela, e foge a qualquer padrão de racionalismo e lógica.

Mas, como sua pergunta é acerca da ressurreição, evitaremos entrar em questões estranhas a ela, e procuraremos esclarecer qual o ponto de vista judaico.

O Egito nos dias de Moisés em tudo o que concerne à fé e à ciência, era tido no mundo como um dos mais modernos no mundo. Em tudo o que concerne à fé, eram seus mestres os magos do povo mesopotâmico citado (Sobba), e foram estes magos que se puseram perante Mochê Rabênu para provar que o que fazia era pura magia.

Magia - entenda-se - não refere-se simplesmente a feitiços e bruxarias, senão ao uso das forças cósmicas, aprendendo a conviver com elas e a dominá-las. Exatamente por isto, eram tidos como os mais adiantados e mais modernizadores dentre os povos do mundo, pois não criam em milagres, senão nas forças cósmicas e que o universo sempre existira (negavam a criação ex-nihilo).

O período da estadia e sofrimento dos hebreus no Egito era já o princípio de nossa missão como povo no mundo, e parte do pacto abraâmico. Os hebreus foram escravizados, para que por força de milagres além da natureza e forças cósmicas fossem tirados do Egito, a potência influenciadora da época. Os milagres foram feitos de forma crescente, ou seja, de modo que a princípio confundiram-nos os magos com a utilização comum entre eles das forças mencionadas. Assim seguiram-se as primeiras pragas, além do milagre da transformação sobrenatural do bastão de madeira da amendoeira em serpente.

Ao momento em que via todo o Egito a morte dos primogênitos, ficava claro que não era algo comum, pois cada ancião, cada jovem, cada animal primogênito morreu. De todos, apenas um primogênito ficara vivo, para ser julgado no Mar Vermelho: o próprio Faraó.

Até essa época, o mundo descria de milagres, crendo apenas no revestimento da "alma cósmica" e sua energia. Esta poderia ser usada após um desenvolvimento mental-emocional adequado, ou por meios que influenciam nos mundos astrais, envolventes do material. Com o ocorrido, porém, o mundo dera-se conta da possibilidade da ação miraculosa, e da existência de uma força superior ao do cosmos.

Assim, também os hebreus. Veja-se que há diferença entre o milagre de pessoas idosas darem à luz filhos, ou gerarem, dos milagres citados no Êxodo do povo hebreu.

Assim, após a partilha do Mar Vermelho, e estando o povo junto ao Sinai, todos em conjunto, ouviram e viram o que olhos e ouvidos humanos não são capazes de suportar e continuarem vivendo, senão por milagre. O temor fizera com que dissessem que Mochê seria intermediário. A partir daí, cremos em Mochê como enviado de Deus, não pelos milagres.

Assim, cremos na Torá, e o que não era aceitável antes - ou seja - que o universo todo se originara do nada absoluto, passara a ser algo real. Com ele todas as promessas da Torá. O milagre do Sinai, não fosse verídico, não passaria de três gerações. É a única vez na história humana que Deus se revela para um aglomerado de pessoas. Todos os demais "profetas" trazem a mensagem, e todos têm que crer nele. Deus a ele se revelara. Com Mochê, não foi assim: primeiro, Deus se revela a todo o povo, para entregar-lhes diretamente a Lei. O profeta, então, é testemunhado como tal por todo o povo, que ouviu pessoalmente a voz de Deus no Monte.

A partir de aí, tudo o que consta na Torá, devemos entender que nos restam duas opções: sermos estultos, descrendo de algo presenciado por todo o povo, ou admitir. Os registros arqueológicos e históricos comprovam que o relato do êxodo hebraico é verídico, incluindo todos os pormenores.

Com a outorga da Torá e a concepção da criação a partir do nada, que dificuldade pode haver em crer que as substâncias corporais possam volver a serem corpos vivos? Se o próprio Deus que realizou os feitos miraculosos sobrenaturais no Egito prometeu, depois de fazer-nos ver as evidências, relatando-nos a criação a partir do nada, por quê nos desfazer disto? Haveria razão para tanto?

Se pergunta: "- Onde na Torá nos prometera?" A resposta, então, é mais longa. Realmente, na Torá não há menção direta, mas indireta. Deus, porém, confidenciou-nos a vinda de profetas, e nos fez saber claramente no fim do livro de Daniel, quando diz-lhe o anjo de Deus em visão profética: "E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo..." - Dn 12:2 E, ainda diz o anjo a Daniel: " - ...Vai-te, até que chegue o fim; pois descansarás, e estarás no teu quinhão ao fim dos dias."

A diferença que há entre nós e determinados grupos que professam esta fé no ocidente, é que nós cremos que haverá, após esta ressurreição, nova morte física, após grande longevidade de dias, como era nos dias anteriores ao dilúvio, provavelmente, devido à ausência das preocupações e das angústias, da guerra, da fome e das pestilências. E, após esta morte, a vida no Mundo Vindouro, que é o que realmente é importante para o judeu. Não confunda com viver no céu, mas sim viver em alma, sem necessidade do físico, e do que a ele pertence. Quanto a eles, fazem do prazer físico o principal e a meta final, e como disse certo grande Sábio de Israel: quem nunca viu algo que não tem corpo, não tem como crer em vida sem corpo. Nós, porém, por sabermos da existência de Deus, que é incorpóreo, e dos anjos, seres mentais separados e incorpóreos, facilmente podemos aceitar tal evidência, posto que é a meta final que nos foi prometida na Torá.

Quanto á ressurreição, não é ela a meta final, nem o mais importante, mas ocorrerá sem dúvida, pois o Criador prometera. Do mesmo modo como o mundo surgira do nada, toda célula, átomo, próton e nêutron está nas mãos de Deus, e Ele, bendito é Ele, faz com tudo o que quiser.

Rabino J. de Oliveira

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