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| As Sete Leis de Deus à humanidade |


Pergunta: Somos uma família de origem mesclada: meu esposo, tem origem oriental; quanto a meus pais, vieram da Lituânia. Temos um filho que a pouco tempo começou a frequentar centro de estudos de "nível espiritual elevado", conforme ele mesmo diz. Trata-se do único grupo de hassidim que se acha em nossa cidade. Para meu esposo, é indiferente, mas para mim é inoportuno, pois venho de uma família tradicional de talmudistas lituanos. A meu ver não deveriam os alunos inexperientes adentrar tais estudos místicos. Que poderia o sr. nos aconselhar?

Resposta:

Muito depende da idade que tem seu filho, mais do que o próprio interesse neste tipo de estudo. Ademais, estamos de pleno acordo que tais coisas não devem ser ensinadas ou aprendidas, a não ser com base prévia no que concerne à Torá escrita e gramática hebraica, ao Talmud e demais escritos tanaítas, e sobretudo, com base nos escritos filosóficos gregos. A maior parte da filosofia hassídica não baseia-se na Torá, senão na filosofia helênica panteísta, da qual saíra mais tarde o pananteísmo.

Caso a sra. esteja perguntando-se qual a diferença entre panteísmo e pananteísmo, esclarecemos: os panteístas crêem que tudo é "deus", e os pananteístas crêem que Deus está em tudo.

Nesta útima aplicação muitos confundem-se: incluindo rabinos, e não somente hassídicos. Mas, há diferença clara e sucinta entre confundir idéias e defendê-las utilizando-se para tanto de versos da Torá.

Tanto o panteísmo quanto o pananteísmo são condenados pela Torá: seria dizer que o infinito e o finito se diluem um no outro. Então, não haveria finito, nem infinito, e tudo seria apenas sombra inexistente de algo inexistente. Isto, porquanto não haveria Criador e criado: ambos seriam o mesmo.

Assim, tais escritos místicos visam defender o "misticismo judaico", ou transmiti-lo às novas gerações. Desconhecem, porém, o próprio livro do qual, aparentemente, derivam tais idéias.

Este é um dos motivos pelos quais aconselhamos que todos os que buscam "misticismo", que estudem os escritos de Rabi Mochê Ĥaim Luzzatto, antes de tudo. Isto, não por sermos partidários de grupos, ou de ideologias, senão por uma única razão: apesar de não nos vermos a nós mesmos como místicos, senão como racionalistas, percebemos que o misticismo do rabino citado se opõe a que transformem o misticismo vigente entre determinadas correntes judaicas em uma miscelânea de idéias não judaicas cuja fonte é idolátrica.

Tais ensinos - ou melhor, seus ensinadores - citam o Zôhar, sem que jamais hajam estudado tal livro; citam o Sêfer Ietsirá, sem que conheçam pelo menos o comentário sobre ele escrito por rav Sádia Gaon, extremamente racionalista. Enfim, se predispõem a propagandear uma verdade sua, sem verificar sequer para si mesmos.

Nós, apesar de sermos sefarditas, temos um apreço e admiração especial pelo grande sábio asquenazita, chamado o Gaon de Vilna, o qual decretara sobre os hassidim um ĥerem. O mesmo vem pela razão do "pananteísmo", o qual entre os rabinos pós-hassídicos ficara em discussão (sem base) se o "tsimtsum" é conforme se diz, ou não. Quer dizer: se o Criador ocupa todo o espaço, como se faz possível a existência dos entes criados? Os hassidim dizem que é tudo parte dele mesmo, através de uma trasmutação da "luz criadora", a "luz do infinito", chamada "or en sof".

Os não hassídicos dizem: o ocupar Deus todo lugar, não é literal, pois Ele é o Criador de "lugar", portanto criou por Sua Vontade, e Sua Vontade fez com que fosse o que foi, sem mudança nele.

Isto condiz com o pensamento judaico anterior ao misticismo. Quiçá se seu filho ler esta carta, e entender que o finito não se une ao infinito, por serem de natureza diferente, e tudo o mais bem resumido nesta missiva, volte ao bom caminho, e deixe de pensar por forma conduzida por pessoas que jamais leram as fontes do que ensinam, senão livros escritos por seus "rebes", como alguns que pregam que "deus se reveste nas pedras através da junção energética das letras que saem da palavra "ében", e assim por diante.

Isto tudo, sem contar que ensinam que "ninguém" pode chegar-se a Deus, senão através de um "tsadiq"(justo), sendo que a própria Torá nos diz que todos nós devemos tornar-nos tsadiqim. Aliás. o misticismo do rabino Mochê Ĥaim Luzzatto também defende esta tese: segundo ele, devemos aperfeiçoarmo-nos até sermos justos.

Porém, mesmo nós, e mesmo com respeito aos escritos do rabino citado, dizemos: saiba primeiramente todo estudante o que Deus requer de nós em dia a dia, ano a ano e décadas a décadas, ou seja, a halakhá, e muito bem, e somente depois, após saber o que disseram os sucessores dos amoraim sobre estas cousas, entrem nelas.

R. J. de Oliveira

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