Necessitamos nós, os "anussim", conversão à própria fé ancestral?

Muitos de nós se deparam com esta questão, que leva a vários a desfazer-se de qualquer proximidade com os demais judeus. Muitos são os casos de pessoas que chegaram a retornar a suas respectivas regiões geográficas pela mágoa sofrida por seus irmãos hebreus das grandes metrópoles, no momento determinado em que os buscara tendo em vista uma vida em comum e o retorno ao judaísmo.

Há casos de pessoas que chegaram a optar pelo contrair matrimônio com pessoas sobre as quais não há nenhuma sombra de dúvida no que concerne a suas origens, isto é, que nada tem a ver com o povo de Israel, como por exemplo nipônicas ou indígenas. Quando inquiridos por seu proceder, a resposta é taxativa: "Não quero que meus filhos passem pelo que passei eu; portanto, é melhor apagar qualquer possibilidade que possam ser tidos como judeus, ou como de "origem judaica"por seu lado materno. Após haver sido expulso de sinagogas em pleno Iom Kipur, após haver sido rechaçado por líderes comunitários judaicos, e após receber evasivas das pessoas responsáveis pelo "retorno" de um filho de Israel distanciado dos seus contra a própria vontade, sofrendo todo tipo de humilhações, acusado disso e daquilo, achei ser essa, se não a melhor opção, a menos dolorida…"

Apesar de sermos rechaçados por homens na terra, o que realmente importa é que saibamos que Deus nos quer de volta, e se alguns nos põem de lado, encontramos também aqueles que nos dão importância e se dispõem a ouvir-nos.

Não podemos pensar que todo o mundo é mau, que todos se desfazem dos "anussim", que todos são alheios a seus problemas. Há os que se encontram à parte de nossos problemas e do sofrimento pelo qual passaram nossos antepassados, que vieram de uma realidade bem adversa. Há também os que não somente se importam e querem ajudar, senão relacionam-se à realidade do cripto-judeu com revelada admiração. É algo comum, por exemplo, em Israel.

Devemos, contudo, admitir que após séculos de separação de nossos irmãos, necessitamos ter uma "garantia", algo que comprove que realmente somos judeus. Um dirá: "- Que garantia tem os judeus oriundos do leste-europeu de que comprove sua judeidade? O que comprova que pessoas cujo aspecto físico e facial é eslavo ou germânico, quase nada ou nada tem de semita, são realmente hebreus? Por que exatamente nós necessitamos isto?"

Não deixamos de admitir que tais questões são realmente plenas de razão, mas o que ocorre é que os judeus não são uma raça, e sim, um povo, conforme explanara claramente o rabino português David de Sola. Portanto, cabe-nos admitir que eles estão dentro do povo por geraçães ininterruptas, e isto basta para sua comprovação. O mesmo não acontece conosco.

A partir do momento que entendemos este ponto importante, devemos lembrar que a ansiedade dos "anussim" é especialmente o retorno ao que foi de nós tirado violentamente: a Torá. Portanto, nos prontificamos imediatamente a aceitar tudo o que ela nos prescreve, incluindo todo o processo de retorno.

Rabi Iossef Caro, o compilador do Chulĥan 'Arukh - a codificação da Torá que buscava unir a todas as facçães judaicas de sua época em volta de mesmos costumes e leis, sefarditas e achkenazitas, escreve em seu livro "Bet Yossef" que os anussim não devem ser obrigados a passar por um processo de conversão, mas que necessariamente necessitam todos os atos que fazem parte deste processo. Motivo simples: todo judeu que chegara à prática de qualquer forma de idolatria estando convertido (forçadamente ou não) a algum grupo de cunho religioso no qual tais práticas idolátricas sejam comuns (que não é o caso do Islam, por exemplo), necessita passar por uma imersão em miqvá no momento em que se predispõe a observar a Torá e seus mandamentos.

Quanto à circuncisão, ou à retirada de uma gotícula de sangue, no caso de ser a pessoa previamente circuncisa, é algo obrigatório a todos, seja judeu que nascera e vivera como tal, seja um converso que optou pelo judaísmo, seja o descendente dos "anussim", a lei nesse caso é igual para todos, com a penas uma diferença: no caso do converso ao judaísmo por livre e espontânea vontade, há uma "berakhá" (bênção) a ser proferida, que não pode de forma nenhuma ser dita sobre os anussim, bem como a bênção prescrita para o convertido à fé judaica no momento de sua imersão na "miqvá", que não pode ser dita pelos anussim. No caso dos anussim essa imersão é símbolo de sua separação e sua purificação de tudo o que é "impureza da idolatria", no caso do converso é uma mudança total de seu ser, tornando-se parte do povo de Israel a partir daquele momento. O "criptojudeu" não deixou de fazer parte, pois nenhum judeu deixa de ser judeu.

Rabi Iossef Caro também redigira um documento especial a ser dado aos anussim no momento de seu retorno: "Comprovante do que retorna aos caminhos de seus pais", no qual o nome hebraico do recém-retornado à fé ancestral transcrito "David ben-Yossef", (ou outro nome - pois o nome "David" e o nome "Yossef" são apenas exemplos) - e não "David ben-Abraham-Abinu", como se procede em caso de conversões.

Como vê, nem mesmo portando documentaçães que comprovem a origem judaica, pode-se deixar de passar pelo processo.

Grandes rabinos de nossa geração estendem suas mãos em prol dos "Anussim", como por exemplo o ex-Rabino-Mór de Israel, Rabi Mordekhay Elyahu, Rabi 'Ovadiah Iosef - o Richon le-Tzion; o atual Grão-Rabino sefardita, Rabi Baqchi-Doron, o rabino Mark Angel, da comunidade hispano- portuguesa, nos EUA, e muitos outros.

Grandes figuras acadêmicas também nos tem auxiliado muito, como por exemplo a historiadora doutora Shulamit ha-Levy, residente em Israel e de origem sefaradita ibérica dos que lograram chegar aos países balcânicos por volta do período inquisitorial.

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